A era do espetáculo e a exposição na Internet

Vivemos numa era midiática em que o ser é mostrar.

Recente episódio envolvendo a exposição de cenas íntimas de adolescentes nas redes sociais, em Teresina, traz o assunto para o campo das discussões mais uma vez. E a pergunta que se faz é até que ponto é saudável a exposição da ‘vida privada’ na Internet e cadê o controle dos pais?

É fato que cada vez mais os jovens, e também os adultos, estão usando a Internet e as redes sociais, como twitter, instagram, facebook e whats app. Isto tanto pela facilidade cada vez maior de acesso à Web através dos smartphones e tablets, quanto pelo fato de hoje vivermos a chamada era do espetáculo, na qual o ser é ou pode ser igual a mostrar. E aí mostra-se de tudo um pouco nas redes sociais: os sapatos novos,  a recente conquista amorosa, a viagem das férias, o embarque no avião…

E acrescenta-se a isso o fato da adolescência ser uma fase na qual há uma disposição à onipotência e ao pensamento mágico. Seria como pensar mais ou menos assim: “eu posso fazer tudo, que não vai acontecer nada”. Essas características podem levar a mostra-se, inclusive nu o seminu, e o jovem ter como pensamento que a tela e a distância relativiza o perigo de expor-se, o que não é verdade. O perigo é real.

Há quem veja as redes sociais como um problema socio-educacional em si. A realidade, como já falado, é que vivemos em uma sociedade midiática e as redes sociais são fruto dessa era atual, como eram os cadernos e agendas do tempo da adolescência dos nossos pais e de quem tem na casa de 40 anos.

Se formos analisar existia naquele tempo um embrião das redes sociais de hoje: os questionários que passavam na escola entre as meninas, onde se respondiam perguntas pessoais. O fim podia ser o mesmo das redes de hoje: mostrar a vida e bisbilhotar à alheia também. E a garota que tinha sua agenda/caderno com mais perguntas do questionário respondidas era também uma das mais populares da turma.

Os meios de comunicação e interação da modernidade por si só não são culpados pela exposição excessiva que vemos hoje em meios como o instagram e o facebook, que a meu ver são os mais populares. Repito que vivemos  na era do espetáculo, na qual o ser é/ou pode ser exibir-se/mostra-se e há as pessoas que gostam de ver e as que gostam de mostrar. É por isso que as fotos do instagram fazem tanto sucesso, bem como as postadas no facebook.

Temos que pensar no fato de que cada um é responsável pelo que publica nessas redes. Então é importante filtrar o que publicar para preservar sua intimidade e até mesmo manter sua segurança.

No caso dos adolescentes, é necessário que os pais sejam vigilantes e, sobretudo conversem com seus filhos, acompanhem o que eles fazem na Rede, quem são seus ‘amigos’, e não apenas deem computadores e telefones de última geração em substituição à presença qualitativa na vida deles. O diálogo e a presença são pontos fundamentais.

Por Adriana Lemos  – Psicóloga e Jornalista
*Da equipe Cuidarte

 

O Cisne Negro e a automutilação

O ato de cortar-se é uma forma de por para fora uma dor emocional não falada

 

Quem já assistiu a obra cinematográfica Cisne Negro vê não só belas imagens, maquiagem perfeita, mas também pode acompanhar uma história rica em conteúdo sobre o ser humano. Em linhas gerais, o filme trata do drama vivido pela personagem interpretada pela atriz Natalie Portman, dos polos de sua personalidade frágil/forte, do mundo de competição do balé e, fala ainda, do transtorno de automutilação ou cutting (cortar/cortando).

Em momentos de angústia e ansiedade a personagem costuma se ferir, promovendo o alívio daquele momento de dor emocional. Esse transtorno, na vida real, é mais comum que se imagina, e pode ser desencadeado por distúrbios psicológicos.

Segundo os especialistas, a prática estaria ligada à culpa e é comum entre os adolescentes, podendo ainda ocorrer em casos de ciúme, por exemplo, quando a pessoa se fere para atingir o outro. A depressão também é um dos casos que leva a automutilação devido à necessidade de deixar de sentir tristeza, bem como os transtornos alimentares podem estar presentes em comorbidade com o cutting.

A automutilação pode ser olhada como a externação de algo não dito, o não falado. Assim, a automutilação seria um ‘grito’, ‘um pedido de socorro’, o ‘externar o silêncio’ e ainda o meio encontrado para liberar a ansiedade.

Ainda segundo os estudiosos da área, a automutilação é feita de forma consciente e não está ligada a ideação suicida. Os ferimentos são realizados geralmente em locais que não podem ser vistos por familiares e amigos. Mas por outro lado, as lesões podem ser feitas em área visíveis para chamar a atenção ou se obter os chamados ganhos secundários.

Para a psicóloga de base psicanalítica, Polliana Melo, a automutilação é um comportamento agressivo, mesmo que algumas pessoas fiquem se machucando, muitas vezes até “sem perceber” o que estavam fazendo.

Ela pontua que geralmente que tem a prática do cutting, afirma automutilar-se com a intenção de interromper uma dor emocional muito forte. É como se fosse uma troca da dor emocional pela dor física.

“Mas logo após uma crise de automutilação é comum sentirem culpa e uma sensação de fracasso ainda maior. Também existe a possibilidade de que a pessoa que mutila seu próprio corpo está tentando sentir algo. Esta pessoa tem tamanha dificuldade em entrar em contato com seus sentimentos que não percebe qualquer sensibilidade em si mesmo, e na tentativa desesperada de sentir, machuca seu corpo”, acrescenta.

Para o tratamento deste transtorno se faz necessário acompanhamento interdisciplinar de médico psiquiatra e de um profissional de psicologia. De modo que o sujeito possa ser acolhido em sua singularidade e, a partir do encontro entre humanidades propiciado pela psicoterapia, possa elaborar seus sentimentos, emoções e atos.

Aos pais e familiares a orientação é fomentar o diálogo nas suas relações, já que a automutilação, como já falado é uma forma de gritar, de comunicar sobre a dor emocional que se sente e não se fala. Em suma,  o encontro genuíno entre as pessoas se faz pelo diálogo, onde cada um pode comunicar e se sentir aceito em sua singularidade, sobretudo aceito por si mesmo e ter a confirmação da aceitação do outro.

 

Por Adriana Lemos – Jornalista e psicóloga
*Da equipe Cuidarte
*Colaborou a psicóloga Polliana Melo 

Psicóloga dá dicas de como diminuir a dependência da tecnologia

Janua Janson diz que é comum ver amigos interagindo no mundo virtual em vez de no real

A tecnologia do telefone celular, sobretudo dos smartphones é fantástica, diminui distância, gera comodidade e mobilidade, mas por outro lado, o fato de estar sempre conectado à tecnologia pode gerar problemas, entre eles prejuízo nos relacionamentos interpessoais, no trabalho, e junto à família.

Foi sobre este tema que a psicóloga Janua Janson falou em entrevista recente no podcast do site Medplan, onde pontuou que adição ao uso do aparelho tem se tornado comum. “A pessoa deixa de viver no mundo real para viver o virtual. E este não é real”, frisa Janua.

“O hábito de estar sempre conectado tem causado dificuldade nos relacionamento. Não é incomum ver num local público grupo de amigos que em vez das pessoas estarem interagindo entre si estão mexendo em seus telefones, nas redes sociais, como facebook e twitter”, observa.

A psicóloga explica que o uso excessivo do celular compromete a sociabilidade, fazendo os usuários substituírem o contato pessoal, com amigos e parentes, pelo virtual. Além disso, a pessoa se sente desprotegida e ansiosa quando percebe que está sem o aparelho. Se ela esquece o aparelho em casa, por exemplo, passa o dia desatenta, tendo queda na produtividade.

“Hoje nos temos a tecnologia para facilitar a vida da gente e não para nos prender, todavia não é isso que temos observado. Isso causa dificuldade no relacionamento, porque as pessoas não interagem mais, vivendo assim, apenas no mundo virtual”, diz Janua Janson.

Entre as dicas que a profissional dá para os que não consegue viver sem mexer no telefone, é tentar diminuir a frequência do uso, desabilitando as notificações, deixando-o desligado em alguns momentos, a fim de amenizar a dependência da tecnologia.

*Por Adriana Lemos

Com informações do site Medplan

Psicólogas da Cuidarte são homenageadas

A homenagem é pelo dia da Mulher, que ocorre nesta sexta-feira.

As profissionais de psicologia da Cuidarte estão sendo surpreendidas com uma bela e sensível homenagem da clínica, nesta semana dedicada às mulheres. Todas recebem mensagem e chocolate pela passagem do Dia da Mulher, que transcorre nesta sexta-feira, 08.

A data tem como simbologia maior as lutas e conquistas que elas conseguiram ao longo da história. Dentre elas o direito de trabalhar fora de casa e receber por isso, incluindo profissões que exigem habilidades já tão peculiares ao universo feminino, como o ato de cuidar.

Veja a mensagem na íntegra:

“Todos os efeitos são recíprocos, e nenhum elemento age sobre outro sem que ele próprio tenha se modificado.”  (Carl Jung)

 Essa é uma homenagem as lindas mulheres psicólogas da CLINICA CUIDARTE.

 

Psicopedagoga realiza oficina de escrita na Cuidarte

A oficina é lúdica e voltada para crianças com disgrafia

A psicopedagoga Nádia Maria Alves Pinheiro está oferecendo na Cuidarte um trabalho diferenciado na área. Trata-se da Oficina de Escrita, voltado para o desenvolvimento de técnicas de reeducação para alunos disgráficos (dificuldade na escrita/leitura/letra inadequada).

Nádia explica que a oficina tem como objetivo melhorar a qualidade do traçado das letras. “Trabalhamos as habilidades de percepção visual, auditiva e tátil. Isso é feito em cima das dificuldades da criança. Se a ela tem, por exemplo, dificuldade na letra cursiva usamos a arte, como a pintura, tudo de modo lúdico”, diz.

Ela acrescenta que jogos, recortes, colagem, uso de massinhas são outros recursos usados na oficina, além do trabalho com a postura da criança, posicionamento do papel e a direcional idade do traçado

 

Infância é tempo de brincar e se estruturar

O lúdico serve como base de estruturação e desenvolvimento da criança.

Hoje em dia, tem-se percebido uma maior preocupação com a formação das crianças. Tanto pais, como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis e equilibradas; contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma ferramenta para esse desenvolvimento. Através do brincar, ela desenvolve capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação.

Ao brincar, exploram e refletem a realidade e na qual estão inseridas, interiorizando e ao mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais. O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.

Quando brincam, as crianças ultrapassam a realidade, projetando na brincadeira as suas dificuldades em relação à vida real. O brincar apresenta características diferentes de acordo com o desenvolvimento das estruturas mentais, existindo, segundo Piaget, três etapas fundamentais. É importante ressaltar também que quando brinca a criança revive eventos que foram significativos, mostra seus sentimentos, comportamentos e dificuldades relacionadas a algumas situações. O ato de brincar permite que a criança procure soluções adequadas para essas dificuldades e através de brincadeiras e o uso de fantasias dirigidas, aumenta as chances de a criança buscar alternativas para esses comportamentos inadequados que primeiramente atuam através de personagens que representa e, só depois generaliza para o ambiente em que vive.

O brinquedo representa uma oportunidade de desenvolvimento. Ele traduz o real para a “realidade infantil”, suavizando o impacto provocado pela intensidade com que os adultos colocam tal situação para as crianças, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Os problemas que surgem na manipulação dos brinquedos, jogos, fazem a criança crescer através da procura de soluções e alternativas. Por exemplo, um boneco pode ser um bom companheiro, no qual a criança demonstra agressividade; uma bola, um promotor do desenvolvimento motor; um quebra cabeça estimula o desenvolvimento cognitivo; etc.

O adulto pode (e deve) estimular a imaginação das crianças, despertando ideias, questionando-as de forma a que elas próprias procurem soluções para os problemas que surjam. Além disso, brincar com elas, procurando estimular as crianças e servir de modelo, ajuda-as a crescer.

O brincar com alguém enriquece os laços afetivos da criança. Um adulto, ao brincar com uma criança, está fazendo uma demonstração do seu amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças. É através da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a cooperar com os seus semelhantes: a conviver como um ser social.
“A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo… Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo… O Brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação.” (Froebel, 1912).

É importante que as crianças tenham tempo livre para brincar, um brincar que não seja controlado, cheio de regras. Mas onde possa expressar livremente seus sentimentos, pois não há melhor forma de comunicação para as crianças que não seja através da brincadeira. Pois nos dias de hoje, as crianças estão cada vez mais cheias de responsabilidades, de atividades estruturadas que ocupam todo o seu dia, sem tempo livre para ser criança. Muitas vezes, todas essas ocupações lhes causam danos à saúde, como o estresse infantil.

Polliana Melo – Psicóloga
*Da equipe Cuidarte

Quando não há limite no ato de comprar

O comprador compulsivo precisa comprar para se sentir bem

A novela Salve Jorge, atualmente no ar pela rede Globo de televisão, traz uma personagem bem sucedida na profissão: a delegada Helô, mas que no seu íntimo sofre e tem compulsão por compras, muitas das quais ela nem chega a abrir o pacote; os guarda como recebeu na loja. O enredo aponta que tem alguma coisa fora do lugar na vida da personagem, alguma carência ou falta. Então fica a indagação sobre a motivação do ato de comprar compulsivamente.

Para começo de conversa vamos entender o que é a compulsão. De forma simples, é um ato repetitivo, algo que não se consegue parar de fazer. A compulsão quer seja por compras, jogos, comida, sexo ou por outra coisa qualquer funciona como um alívio de tensões, ansiedades. Nas fases iniciais o ato proporciona prazer, mas depois pode surgir culpa e arrependimento.

Há teóricos que dizem ser a compulsão uma dor emocional não vivenciada, que não queremos entrar em contato, que gera baixa autoestima, por exemplo. Então a compulsão por compras pode ser um modo de compensar a falta de algo (de ser amado, aceito, admirado, etc.). Nesse sentido a compulsão seria uma gratificação emocional e normalmente um alívio da angustia.

Existe uma correlação pontecial da compulsão por compras com outros transtornos do humor, como o transtorno obsessivo-compulsico (TOC) e o e transtornos de impulso.

É importante destacar que compulsão por compras não é a mesma coisa que comprar por impulso. Todo mundo está sujeito uma vez ou outra comprar um objeto sem pensar, simplesmente por impulso (e a propaganda/marketing muitas vezes nos pega nisso e nos faz comprar). Só é compulsão quando o ato de comprar prejudica a vida financeira/emocional da pessoa que tem o transtorno.

Sobre as causas da compulsão por compras não há nada estabelecido. Fala-se em vulnerabilidade e predisposições, seja de elementos familiares, tais como hábitos consequentes à extrema insegurança e aprendidos no seio familiar, seja por razões individuais e relacionadas a vivências do passado e ao dinamismo psicológico pessoal. Também são consideradas questões biológicas de acordo com o funcionamento orgânico e mental do indivíduo.

Por fim, a pessoa que sofre com esse transtorno necessita do acompanhamento de um profissional de saúde mental psiquiatra/psicólogo. E a meta é fortalecer o lado emocional do sujeito para que ele possa conter o impulso em comprar. A avalição de um médico psiquiatra também pode ser necessária para o uso ou não de medicação em conjunto com a psicoterapia.

Por Adriana Lemos – Jornalista e psicóloga
*Da equipe Cuidarte

Polêmica: O que fazer quando o coração não para?

Uma discussão acerca da eutanásia, ortotanásia e a relação com o coração

 

 Quem poderia imaginar que uma palavra tão clássica como eutanásia, derivada do grego eu, que significa bom e thanatos que quer dizer morte causaria tantas discussões polêmicas nesse início de século 21? Pois é, grego clássico nenhum certamente, porém nós, bem mais modernos, ainda conseguiremos ver, ouvir e tomar partido em muitas dessas acaloradas discussões. O que significa de fato e de direito, eutanásia? E por que essa polêmica, se provavelmente para todos nós, seres mortais, seria vantajoso ter uma boa morte? A quem caberia o papel de decidir e executar a eutanásia? E ainda, por que tantos componentes como o social, médico, psíquico, cultural, religioso, político, legal, ético, se posicionam contra ou a favor da eutanásia?

Bem, eutanásia assume o significado de morte serena, sem sofrimento, mas também significa a maneira pela qual se busca abreviar, sem dor, a vida de um enfermo reconhecidamente incurável, contrário de distanásia que “é o prolongamento da vida de modo artificial, sem perspectiva de cura ou melhora”.

É exatamente a segunda definição de eutanásia, com o termo abreviar a vida, que gera tanta emotividade, atenção, argumentação e avaliação. A prática da eutanásia não deve ser confundida com homicídio ou mesmo o suicídio assistido, “ela visa à situação em que o interessado quer livremente morrer, mas não consegue realizar seu desejo amadurecido, por motivos físicos, necessitando do auxílio de outros”.

O fato de a eutanásia estar associada à morte cerebral de pessoas cujo coração continua funcionando, divide opiniões. O coração foi considerado por muito tempo como sendo o centro de todo o corpo humano e mesmo depois dessa atribuição ter sido transferida para o cérebro, ainda se conserva a idéia de que se o coração pulsa é porque há vida e há esperança. A partir daí instituições sociais e áreas específicas do conhecimento se esmeram em argumentos contra ou em seu favor.

Alguns dos principais pontos a favor da eutanásia são pautados em dois princípios: o da qualidade de vida e o da autonomia pessoal. Sobre qualidade de vida entende-se “a atribuição de um valor universal, de qualidades históricas e sócio-culturais aceitas pelo titular de uma vida particular, vida que vale a pena ser vivida”. Por autonomia pessoal, entende-se “o respeito à liberdade de escolha da pessoa que padece, podendo esta decidir entre viver ou morrer de acordo com seus valores e interesses”. Nas sociedades liberais, democráticas e contemporâneas, este é considerado o mais importante princípio para a legitimação da eutanásia.

As principais objeções, por sua vez, são encabeçadas pela religião, pelo fato de serem “inspiradas na crença religiosa de uma sacralidade da vida”. Ninguém pode cometer pecado contra a divindade que detém o poder da vida. Outro ponto seria o risco de abusos de procedimentos ou negligência médica. Ainda do ponto de vista médico pesa contra a eutanásia o célebre “juramento de Hipócrates, pelo qual o médico não pode ser o juiz da vida e da morte de alguém”.

Porém, ainda, e tão forte quanto esses, consta o argumento da lei: nos países onde a eutanásia não é permitida legalmente, como no Brasil, ela se enquadra como homicídio e quem a pratica, mesmo por vontade ou a pedido da vítima, é punido criminalmente.

 Se a lei é clara no Brasil, porque o tema continua polêmico? O que há de inovação sobre o assunto que reacende essa polêmica? Uma boa resposta encontra-se no Código de Ética Médica, vigente desde 2010. Nele apresenta-se a ortotanásia como uma proposta de inovação ao tema, principalmente no que tange a relação médico-paciente. A ortotanásia rege que o médico deve oferecer ao paciente terminal e incurável todos os cuidados paliativos disponíveis na medicina evitando ações tecnológicas, medicamentosas e econômicas desproporcionais, inúteis ou obstinadas. Tudo é claro, levando-se em consideração a vontade do paciente ou de seu representante legal quando este se encontrar impossibilitado de expressá-la.

E mais recentemente, o mesmo código de ética reconheceu a validade do testamento vital, documento pessoal e intransferível, que traça antecipadamente as diretrizes referentes ao suporte médico desejado por pacientes, nos momentos finais de quadros terminais. Também e igualmente importante, aquilo que não é desejado por eles.

No testamento vital o paciente grave, incurável que não esteja respondendo mais a nenhuma medida terapêutica, poderá expressar verbalmente ou por escrito a forma como desejará viver seus últimos dias até sua morte chegar. De acordo com o Conselho Federal de Medicina esta resolução tem força de lei entre a classe médica, significando que todos os profissionais deverão respeitá-la.

Essas três propostas, no entanto, não se apresentam com características idênticas, embora o desconhecimento por vezes possa gerar dúvidas na distinção de tais procedimentos aplicados pelos médicos. O que contribui bastante para o aumento das polêmicas. Pois há os que temem que tanto um quanto outro possam culminar numa eutanásia camuflada.

Tanto a ortotanásia quanto o testamento vital se diferenciam da eutanásia por aspectos bem específicos. Enquanto na eutanásia o profissional médico utiliza meios para abreviar a vida do paciente; na ortotanásia ele se utiliza de meios paliativos disponíveis para o acompanhamento do processo natural de morte do paciente; enquanto no testamento vital ele acata a decisão do paciente de como ele será tratado durante esse processo.

Temas relacionados à eutanásia serão sempre complexos e profundos por demais, portanto, de difícil manipulação por todos: os prós, os contra e os que não podem manifestar sua posição por razões éticas profissionais. Mesmo em países mais liberais como a Bélgica, Holanda e Suíça, esses procedimentos são cercados de aparatos legais e éticos que passam por freqüentes modificações sempre que a sociedade assim o exigir. Faz-se necessária cautela, pois estamos lidando com “princípios por vezes antagônicos: o da preservação da vida e o do alívio do sofrimento”.

O envolvimento dos componentes sócio-cultural e histórico é determinante para a atuação de uma importante área do comportamento humano: a psicologia. Por não se encontrar o psicólogo, obrigatoriamente, na linha direta da decisão ou prática da eutanásia, ortotanásia ou do testamento vital que geralmente está em mãos do paciente, seus médicos e sua família, cabe a ele o papel de acompanhar, dar suporte e prestar assistência psicológica aos envolvidos, diante de qualquer decisão que possa ser tomada.

Em casos que pressupõem ou se confirmam tais decisões, haverá sempre a presença de processos psicológicos como comportamento, percepção, emoção, consciência, afetividade, e ligados a esses processos, os juízos de valores e ética. Há que se assegurar a integridade psíquica, principalmente do paciente, esclarecendo que ele não sofre de qualquer distúrbio mental permanente ou temporário, está capacitado para decidir por si e pela sua vida e acima de tudo que possui uma vontade explícita que deverá ser respeitada.

Embora uma decisão desse porte careça do fortalecimento do cultural e do social, ela geralmente ocorre no plano individual e se volta primeiro, para o indivíduo, o paciente. Isso tudo gera angústia, pois o indivíduo é um ser socializado. Como se desapegar de família e sociedade? Como fazê-los aceitar tal decisão? E nos casos em que a família toma a decisão, como lidar com o fato para o resto da vida? E como fica o médico responsável pelo paciente? Como se manterem todos íntegros, diante de tal procedimento? O acompanhamento psicoterápico responsável se fará relevante e necessário com o intuito de minimizar tais angústias.

Estes temas irão sempre nos levar a repensar a nossa finitude, de como evitamos falar sobre eles por não nos considerarmos preparados para a morte, nossa e dos que amamos. E vamos adiando o momento de pensar no assunto. Para algumas pessoas a simples menção ao tema é motivo de desconforto e por vezes de verdadeiro terror. Muito dessa repulsa se deve aos próprios avanços da medicina que aliada à tecnologia permite muitas vezes um adiamento da morte, mesmo que de forma artificial e obstinada. Que a polêmica reacendida sobre a eutanásia, com os olhares voltados para a ortotanásia e para o testamento vital, nos permita, também, repensar os limites da vida sob a ótica do que é natural ou não, suportável ou não, possível ou não e ainda do que é digno ou não.      

Por Glória Ferreira – Psicóloga
Da equipe Cuidarte

Ciúmes em tempos de Internet

 O que fazer para não ‘se morder de ciúmes’ quando o companheiro(a) vive nas redes sociais?

Nesse mês de janeiro fomos convidadas a falar em uma reportagem da Revista Cidade Verde sobre ciúmes, que enfocou não só a violência decorrente dessa emoção transmutada em patologia. A matéria abordou também o ciúme em tempos de Internet e foi, sobretudo, nesse ponto que falamos. Trago nessa matéria um ‘plus’ das respostas que dei à repórter Caroline Oliveira, que assina a matéria naquele veículo.

Em linhas gerais disse a ela que o ciúme é uma emoção presente nas relações humanas, quer seja ela entre um casal ou pais e filhos, irmãos e amigos. Confira a entrevista na íntegra.

As redes sociais podem destruir uma relação por causa do ciúme?

Podem, mas vai depender do grau do ciúme, do próprio modo de se relacionar do casal e das características de personalidade do ciumento, que pode viver atormentado com qualquer coisa que ameace – real ou imaginariamente – a sua relação amorosa. O ciumento é movido pela desconfiança, assim os amigos virtuais do parceiro são motivo de brigas, acusações e desconforto emocional. Assim, o desgaste da relação pode ter como ponto desencadeador as redes sociais.

Como os casais podem se prevenir nas redes sociais para não provocar ciúme no parceiro?

O fundamental é o casal conversar, manter uma relação madura e saudável, na qual um dar ao outro segurança e liberdade para viver sua individualidade dentro da relação, isso está incluído os dois terem amigos fora da relação e esses amigos incluem os virtuais. As pessoas precisam entender que um casamento ou namoro não significa fusão, mas intersecção. A relação amorosa é como se fosse uma terceira pessoa (o casal), que se encontra, mas mantém suas individualidades.

Quando o ciúme é considerado normal?

O ciúme é uma emoção humana comum nas relações afetivas, quer seja nas relações entre casais ou entre amigos, irmãos, pais e filhos. É gerado pelo medo de perder o ser amado. Ele pode estar ligado ao zelo pela pessoa alvo dos investimentos afetivos. No ciúme normal há uma autocrítica do ciumento, o problema se instala quando o ciúme passa do limite e se transforma em sentimento de posse. A pessoa que tem esse tipo de ciúme projeta, muitas vezes, sobre o parceiro fantasias de infidelidade. Assim as redes sociais (e os amigos virtuais) podem representar uma ameaça, uma possibilidade de perder o ser amado (ameaça real ou imaginária e para o ciumento contumaz essa ameaça é, via de regra, imaginária)

Quando a pessoa sente o ciúme como ela pode agir?

Como falei, o ciúme faz parte das relações afetivas. O importante é sempre conversar com o parceiro, expor seus sentimentos, tirar ‘ as minhocas’ da cabeça. O autoconhecimento, através da ajuda de um profissional de psicologia, também é um caminho para lidar bem com as emoções e sentimentos.

Como lidar com o ciúme ou para não sentir ciúmes quando o casal trabalha junto?

Quando se trabalha junto, o casal deve ter ainda mais cuidado e assim separar o trabalho do relacionamento amoroso, a fim de não prejudicarem-se mutuamente. A sugestão mais uma vez é a conversa aberta e franca sobre o assunto. O casal pode combinar um ‘código de conduta’ para o ambiente de trabalho.
Por Adriana Lemos – Psicóloga e jornalista
*Da equipe Cuidarte

Tem início 2ª turma da especialização em Trânsito

Teve início neste sábado a segunda turma do curso de especialização em Trânsito ofertado em Teresina pela Posgraduar (MG), por meio de uma parceria com a clinica Cuidarte.  O segundo módulo da 1ª turma também ocorre na mesma oportunidade. As aulas foram iniciadas com a disciplina de Engenharia de Tráfego, ministrada pelo professor Ronaro Ferreira.  Ele aproveitou a oportunidade para entregar o certificado de perito para alunos que concluíram a primeira etapa da especialziação. Veja fotos!