Infância é tempo de brincar e se estruturar

O lúdico serve como base de estruturação e desenvolvimento da criança.

Hoje em dia, tem-se percebido uma maior preocupação com a formação das crianças. Tanto pais, como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis e equilibradas; contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma ferramenta para esse desenvolvimento. Através do brincar, ela desenvolve capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação.

Ao brincar, exploram e refletem a realidade e na qual estão inseridas, interiorizando e ao mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais. O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.

Quando brincam, as crianças ultrapassam a realidade, projetando na brincadeira as suas dificuldades em relação à vida real. O brincar apresenta características diferentes de acordo com o desenvolvimento das estruturas mentais, existindo, segundo Piaget, três etapas fundamentais. É importante ressaltar também que quando brinca a criança revive eventos que foram significativos, mostra seus sentimentos, comportamentos e dificuldades relacionadas a algumas situações. O ato de brincar permite que a criança procure soluções adequadas para essas dificuldades e através de brincadeiras e o uso de fantasias dirigidas, aumenta as chances de a criança buscar alternativas para esses comportamentos inadequados que primeiramente atuam através de personagens que representa e, só depois generaliza para o ambiente em que vive.

O brinquedo representa uma oportunidade de desenvolvimento. Ele traduz o real para a “realidade infantil”, suavizando o impacto provocado pela intensidade com que os adultos colocam tal situação para as crianças, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Os problemas que surgem na manipulação dos brinquedos, jogos, fazem a criança crescer através da procura de soluções e alternativas. Por exemplo, um boneco pode ser um bom companheiro, no qual a criança demonstra agressividade; uma bola, um promotor do desenvolvimento motor; um quebra cabeça estimula o desenvolvimento cognitivo; etc.

O adulto pode (e deve) estimular a imaginação das crianças, despertando ideias, questionando-as de forma a que elas próprias procurem soluções para os problemas que surjam. Além disso, brincar com elas, procurando estimular as crianças e servir de modelo, ajuda-as a crescer.

O brincar com alguém enriquece os laços afetivos da criança. Um adulto, ao brincar com uma criança, está fazendo uma demonstração do seu amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças. É através da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a cooperar com os seus semelhantes: a conviver como um ser social.
“A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo… Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo… O Brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação.” (Froebel, 1912).

É importante que as crianças tenham tempo livre para brincar, um brincar que não seja controlado, cheio de regras. Mas onde possa expressar livremente seus sentimentos, pois não há melhor forma de comunicação para as crianças que não seja através da brincadeira. Pois nos dias de hoje, as crianças estão cada vez mais cheias de responsabilidades, de atividades estruturadas que ocupam todo o seu dia, sem tempo livre para ser criança. Muitas vezes, todas essas ocupações lhes causam danos à saúde, como o estresse infantil.

Polliana Melo – Psicóloga
*Da equipe Cuidarte