Os pesos da vida, fé e a experiência transcendent

Já parou para observar o que acontece com sua energia quando você se ENTREGA ao seu banho no final do dia, ao chegar em casa? Já parou para observar a qualidade dos afetos nas suas relações quando há ENTREGA? Quando você está em um processo de ansiedade intensa  e começa a respirar… Já parou para sentir o que acontece quando você se ENTREGA á sua respiração e deixa ela te embalar e guiar? Sabe aquela vozinha, aquela intuição sentida lá no fundo que te aponta uma direção, mesmo que você não saiba explicar o sentido imediato?

Você já se deu um tempo só para contemplar e observar você se ENTREGANDO para sentir, aprender, experimentar uma experiência, um fato, uma situação? É muito mais gostoso usufruir de experiências que nos fazem sentir vivos, nos conecta com a vida e nos alinha com os nossos sonhos e objetivos, não é mesmo? E quando essa conexão não chega? E quando no lugar

de sonhos, a desesperança e o medo, por exemplo, é que faz moradia no nosso corpo, nas nossas relações, nas nossas noites de sono? Na maioria das vezes, como é agora,  em que  me pego pensando ou vivendo uma experiência de privacao, de sobrevivência ou mesmo de provação, na qual sinto que estou sendo testado no meu amor, na minhas crenças, na minha fé, aí sei que há um convite, um chamado para viver a experiência da ENTREGA. E o processo da ENTREGA é uma vivência transpessoal , pois atravessa  dimensão do nosso ser espiritual.  A fé não é uma idéia, um planejamento, uma crença ou estratégia de Coach, que podemos simplesmente experimentar para ver se funciona, se serve ou não. O convite é muito mais íntimo, as vezes solitário e geralmente uma jornada missionada , que aponta para a nossa missão e projetos de vida neste mundo e além dele. Por isso que, nesta experiência de viver    o desafio da ENTTREGA, CONFIAR, talvez seja necessário um processo de provação solitário  e íntimo, pois a minha missão é minha. A sua é sua. Os outros podem encorajá-lo, inspirá-lo,

apoiá-lo, mas ninguém pode vivenciá-la ou dizer o que é bom para você. Quem me conhece um pouco sabe que quando   estou em crise, eu escrevo. É como se neste processo eu entrasse  em uma psicoterapia silenciosa comigo mesmo. E quando começo a enxergar as minhas máscaras e sombras, minhas manipulações diante da vida, das pessoas, do meu trabalho, quando paro um pouco e verdadeiramente me dou a instrução interna de olhar para mim

mesmo, nu, começo a RE-CONHECER as cicatrizes no corpo, na minha história, na minha família, na alma. Pontos escuros que doem e que seria melhor ( racionalmente) não  vê e não  trazer a   luz porque revelaria em mim algo que pretendo esconder à mostrar para o social. Aqui. Neste ponto. Sou eu comigo. Nu. Aqui posso me acolher . Me dá colo. Posso reconhecer meus erros, falhas, impotências, minhas virtudes e milagres diários. Se eu mesmo não tenho o interesse

de se relacionar comigo mesmo e me  aceitar como sou, com rugas e tudo, como posso   seguir fingindo, me enganando e manipulando a vida e os outros para agradar um público de humanos como eu, pautado do medo social de existir? Ninguém pode fugir de si mesmo pelo resto da vida. A Entrega joga luz e alimenta a alma de intencionalidade, de comprometimento   e de força de vida. A Entrega, a fé, é uma das forças mais poderosas que alimenta a nossa CONSCIÊNCIA. E a consciência que chega na entrega real é a de que por trás da correria, por trás da ansiedade, por trás da necessidade de ser importante, por trás da imagem que muitas vezes sustento de que preciso produzir e ser necessário para alguém ou algo na vida está o Medo. Um deles já conheço de longa data: o Medo de não sobreviver. O conheço desde o tempo em que morava nas ruas e engraxava sapatos para poder comer, do verbo alimentar.

O medo da violência, de não conseguir me defender ou ser pego facilmente pela polícia. Mas outros medos também me acompanham. Como psicoterapeuta sistêmico, sugiro que, se você também sente que vive um processo de busca de auto conhecimento, se está se sentindo convidado a vivenciar um processo de entrega, de auto-analise, a pergunta a ser feita é ”

Medo do que eu tenho? O que é que eu ainda estou me apegando? O que em mim eu ainda não consigo amar? Pois bem… lembra dos fragmentos e ” pedaços dos eu” do Sergio, que acabei de

 

me referi antes, as sombras e as necessidades que muitas vezes me pego sustentando? Esse talvez seja o meu treino de vida por um bom tempo: aprender a amar minhas sombras, minhas partes desintegradas que pedem para ser  vistas, acolhidas  e  cuidadas. A minha  experiência de entrega, neste momento, me pede um processo de alfabetização da atenção interior , comprometimento e amor para olhar ( com os olhos amorosos, mente e coração abertos)    para minhas fraturas, dores não vistas e a minha missão de vida: aprender a amar através do

serviço que sirvo, pois no fundo, no fundo, tem algo de muito maior e amoroso servindo a todos nós. Disto não  tenho dúvidas. E   agora sei que não  preciso ver, mas CRER que estou sendo  visto. Lição de hoje: Fé é uma experiência de alinhamento da energia de comprometimento

( absolutamente sincero) e da ENTREGA.

Por Ségio Batista, psicólogo clínico da Cuidarte.