Pesquisa mostra como casais felizes discutem

Terapeutas lançam livro propondo oito encontros para tratar de questões cruciais do relacionamento

Em qualquer casamento, conflitos são inevitáveis, e mesmo as duplas felizes brigam. Aliás, os tópicos não diferem, nos relacionamentos bons e ruins: filhos, dinheiro, parentes, intimidade. Então, o que faz a diferença? Esse foi o fio condutor da pesquisa “Quais são os problemas conjugais dos casais felizes?” (“What are the marital problems of happy couples?”), realizada por estudiosos de quatro universidades norte-americanas. O resultado do levantamento apontou para a forma como as discussões eram conduzidas.

“Quando surge um conflito, a abordagem dos casais felizes é voltada para buscar uma solução, e isso fica claro inclusive nos tópicos que são discutidos”, explicou Amy Rauer, professora da University of Tennessee, que assina o estudo ao lado de mais três colegas: Allen Sabey (Northwestern University), Christine Proulx (University of Missouri) e Brenda Volling (University of Michigan). O quarteto acompanhou dois grupos de casais que se descreviam como felizes: 57 pares se situavam na faixa dos 30 anos e suas relações tinham cerca de nove anos; e 64 estavam juntos há quatro décadas, com idades em torno de 70 anos.

Todos listaram os temas sobre os quais discutiam. Os mais sérios eram intimidade sexual, lazer, dinheiro, comunicação e tarefas domésticas – para os idosos, saúde entrava nessa lista. Entre os assuntos mais fáceis de lidar estavam ciúmes, religião e família. Os pesquisadores observaram que as pessoas sempre concentravam sua energia nos pontos de fácil solução. Segundo Amy Rauer, tratava-se de uma decisão estratégica. “Focar continuamente nos problemas difíceis de serem solucionados pode minar o relacionamento, enquanto buscar logo a solução dos mais simples alimenta o senso de segurança dos dois parceiros. Se o casal sente que pode trabalhar em conjunto, tem confiança para enfrentar questões mais sensíveis”, avaliou a professora.

Saúde e sexo mostraram-se os quesitos espinhosos: são aqueles que afetam o sentimento de competência do outro, fazendo-o sentir-se vulnerável e embaraçado. Se uma base de confiança ainda não foi construída e sedimentada, as chances de impasse aumentam. Os casais longevos relataram um número menor de “arestas” e também de brigas, o que reforça trabalhos anteriores: “normalmente, eles decidem que alguns assuntos não valem uma discussão e priorizam o casamento. É como se escolhessem apenas as batalhas mais relevantes”, completou a pesquisadora.

Para quem tem dúvidas sobre a qualidade da vida a dois e gostaria de experimentar um caminho para o equilíbrio, o casal de terapeutas de família John e Julie Gottman acabou de lançar o livro “Eight dates: essential conversations for a lifetime of love” (em tradução livre, “Oito encontros: conversas essenciais para o amor de toda uma vida”). Na obra, eles propõem oito encontros para tratar de questões cruciais, como confiança, sexo, dinheiro, diversão e sonhos. Cada item tem um questionário que vai funcionar como um exercício de reflexão antes do “encontro”. Por exemplo, na categoria dinheiro, cada um é encorajado a pensar e falar sobre seu histórico familiar e escrever sobre os medos e expectativas que o tema suscita.

Casados há 32 anos, John e Julie têm um instituto batizado com seu nome que realiza pesquisa e treina terapeutas. Ambos são autores de diversas obras, em parceria ou separadamente. Em entrevista ao “The Guardian”, ele lamentou que os casais que estão juntos há algum tempo deixem de cuidar da própria relação: “é como se a curiosidade que tinham um pelo outro tivesse morrido”.

Fonte: BemEstar