O que não dizer a uma mãe exausta.

A propaganda sobre a maternidade vende um estado pleno de felicidade, mas, a realidade do dia-a-dia não condiz com essa plenitude. Não quero dizer que ser mãe não tenha suas alegrias. Sim, tem. E como tem. O problema é entender que não são apenas alegrias. Há dores de natureza física e mental em conjunto com um volume enorme de expectativas.

Contudo, não podemos deixar que isso destrua a missão de ser mãe, afinal os pequenos não pediram para nascer, não é mesmo?

Outro dia na Internet assisti ao depoimento de uma mãe exausta, falando sobre seus dilemas maternais. Ela estava aos prantos relatando sua rotina com duas crianças e o quanto ela estava cansada da dupla jornada casa/trabalho. E, para piorar a qualidade de vida dela, as crianças estão ainda naquela fase de acordar durante a noite. Infelizmente, o ambiente virtual mostrou-se hostil, pois surgiram os seguintes comentários:


Pariu? agora aguente;
Essa não nasceu para ser mãe; Que tristeza!
Largue tudo e cuide só deles;
E você queria uma vida de princesa?
(…)

Pasmem! Notei, ainda, que a maioria dos comentários eram de mães. Nesse contexto, algumas reflexões são necessárias. Mas qual o motivo dessas mães pensarem assim? Provavelmente porque elas acreditam que a maternidade só é composta de felicidade plena, qual seja: descobrir a gravidez, as primeiras palavras, o engatinhar, os primeiros passinhos… Porém, ao mesmo tempo há aflições, angustias, dissabores e luto nesse processo. Nem sempre a realidade reflete as aspirações. Noites mal dormidas, problemas com amamentação, cólicas, choros que não são compreendidos etc. são o outro lado da moeda que entra em rota de colisão com felicidade plena de ser mãe. Eu, particularmente, não acredito que as expectativas frustradas devam ser silenciadas. Ao contrário, precisamos falar sobre isso, pois ao serem caladas potencializam a degradação da saúde mental. Nesse terreno, as sementes da depressão e ansiedade são plantadas, fertilizando o adoecimento mental das mães.

Então, o que dizer a uma mãe submetida à exaustão física e mental? Que tal:

Você precisa de ajuda?
Deseja descansar?
Quer um abraço?

Você também pode colaborar modificando falas como “onde está a mãe dessa criança?” por “onde estão os responsáveis por essa criança?” ou “essa criança não tem pais, não?”

Em verdade, devemos desconstruir esse discurso carregado de julgamentos retrógados. O que as mães precisam é de apoio, solidariedade e autocuidado. Aconselhe sair com as amigas, ir ao salão de beleza, ao cinema, namorar, fomentar seus projetos e enfocando sempre que isso não a fará uma mãe ruim, mas muito pelo contrário, digo: ao cuidar de si mesma ela estará mais fortalecida para enfrentar os dilemas maternais.

Desta forma, você estará contribuindo para que as mães descarreguem um caminhão de pedras das costas. Caminhão de pedras? Isso mesmo. São aquelas famosas culpas que “puxam pra baixo”, corroem por dentro e anulam sonhos e vidas de algumas mães.

Por fim, a maternidade não é uma receita de bolo. Cada uma vive de forma diferente. A mãe nasce com a chegada do filho, na labuta diária e com os modelos de referência que possui. Acredito que todas estão dando o seu melhor, mesmo que não seja o suficiente ao olhar do outro.

Karoliny Damasceno
Psicóloga CRP 21/02309
Teresina – PI