Luto em tempos de pandemia

Imagine perder alguém que você ama muito e não poder se despedir, não realizar os rituais fúnebres que você acredita, um último abraço, um adeus… é isso que a pandemia por COVID-19 está fazendo com os enlutados dessa tragédia. E ainda temos a outra parcela da população que morre por outras causas que também acaba sendo afetada na realização dos rituais fúnebres por conta do isolamento exigido para conter a propagação do vírus.

A pergunta que não quer calar é: como podemos viver a dor do luto simultaneamente ao isolamento social?

É, parece ser um fardo pesado. O luto por si só já é um processo angustiante e vivê-lo isoladamente, sem a realização dos rituais que acreditamos e longe dos demais enlutados o torna mais sofrido. A rede de apoio social é justamente um dos fatores de proteção para que o luto normal não se torne patológico, logo o convívio social se faz de suma importância.

O noticiário constantemente traz exemplos de solidariedade pelo mundo diante da solidão que a pandemia nos impôs. São pessoas tocando músicas em suas varandas, são aplausos, palavras de carinho e já ouvi até poemas, dentre tantas outras manifestações de afeto e cuidado para com o outro. Um convívio social sem beijos, sem abraços, porém, com a mensagem mais importante “eu me importo com você.  Você não está sozinho.”

É comum ouvirmos “eu não sei o que dizer”. Na verdade, ninguém sabe. Talvez não tenhamos nada a dizer. Nossas atitudes falam mais que palavras. Atitudes, como as já citadas e que não cabe mais a um abraço, por enquanto.

Realizar os  rituais fúnebres dentro do que pode ser feito no momento, ajuda a minimizar o sofrimento. E assim que possível, faça tudo de acordo com o que você acredita.

Ofereça ao enlutado espaço para viver a sua dor, mesmo que não estejam próximos fisicamente. Deixe – o chorar, falar se quiser e até mesmo gritar. É muito importante não silenciarmos essa dor. Vale uma vídeo chamada, uma mensagem de texto, rezarem por tele chamada, para que mesmo no isolamento ele não se sinta sozinho. Perceba que ele está vulnerável para desenvolver um luto patológico diante da crise global que estamos enfrentando. Aconselhe ter contato com a natureza, mesmo que no jardim de casa ou na varanda do apartamento. Encoraje – o  a voltar a rotina, mesmo que seja, a dos afazeres domésticos.

O momento é de solidariedade e união de todos para que possamos passar por essas dores de uma forma mais amena e para que o outro sinta um acalento, afinal, pandemia e luto ao mesmo tempo não é fácil. Acredite, a  vida sempre se reinventa e se renova. Vai passar.

Por Karoliny Damasceno – Psicóloga da Clínica Cuidarte (CRP 21/02309)