Dormir mal eleva no cérebro o número de proteínas ligadas à doença

Quem nunca “roubou” sono de si mesmo que atire a primeira pedra. Seja pela quantidade enorme de afazeres diários, por puro divertimento, distração com as novas tecnologias ou até falta de cuidado, a maioria das pessoas, pelo menos de vez em quando, dorme menos do que o corpo pede. Como sabemos disso? Com um sinal claro.

“Não se sentir satisfeito no dia seguinte. Não adianta comparar com os outros. O ideal até é acordar sem despertador“, declara Rosa Hasan, coordenadora do Laboratório do Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Um estudo feito no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e publicado em abril de 2018 na revista Proceedings Of The National  Academy Of Sciences traz um alerta em relação a este comportamento: dormir mal aumenta proteínas associadas ao Alzheimer no corpo.

Os pesquisadores avaliaram 20 voluntários saudáveis e de variadas idades durante duas noites. Um grupo foi submetido a um período confortável de sono. O outro dormiu por apenas 5 horas. Por meio de exames específicos, foi possível identificar um aumento de 5% de proteínas chamadas beta-amilóide no cérebro das pessoas privadas de sono. As regiões atingidas por essas substâncias foram justamente o hipocampo (responsável pela memória) e o tálamo (ligado sobretudo à consciência e estímulos). Importante saber que pesquisas variadas sobre beta-amilóide apontam que pacientes com Alzheimer têm 43% a mais da proteína do que pessoas sem a doença.

Faxina noturna

Rosa Hasan, que também coordena o ASONO, ambulatório de sono do Instituto de Psiquiatria, afirma que a descoberta vai ao encontro de algo que os especialistas já têm certeza: “Durante o sono é feita uma limpeza de substâncias ruins no cérebro. O sistema glinfático é o responsável por essa drenagem”. Portanto, se o sono não é bom, há menos faxina e mais acúmulo de toxinas.

A médica enfatiza que estamos falando tanto de falta de quantidade suficiente de sono como também de qualidade. “Muitas vezes a pessoa até dorme durante horas, mas sem um descanso efetivo. Caso de quem tem apneia do sono, por exemplo”.

A curto prazo, a falta de sono provoca falha de memória, afeta a capacidade de julgamento e traz problemas de cognição que aumentam o risco de acidentes e atrapalham o desempenho. “Quando a privação é crônica, piora todo esse quadro. Aumenta mortalidade, doenças cardiovasculares e risco de desenvolver demência”, alerta a coordenadora.

Sobre o Alzheimer, é preciso dizer que há muitos fatores por trás da doença: genéticos, ambientais e o próprio envelhecimento da população. Os dados do novo estudo são interessantes, mas não são conclusivos. De qualquer forma, os cientistas caminham em direção a pistas bastante concretas sobre as relações entre sono e lesões cerebrais. Não há mais dúvidas de que “sono não é luxo, é essencial para a saúde de todo e qualquer indivíduo”, conclui Rosa Hasan.

 

Fonte: vitalaire