A literatura como remédio

Para o historiador Dante Gallian, a prevenção para os males do corpo e o padecimento da alma está na leitura dos grandes clássicos. Ele pesquisa o poder disso há quase duas décadas.

Foi o avô, um ex-combatente da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quem aflorou a paixão pelos livros no menino Dante. “Meu avô não terminou o curso primário, mas era um grande autodidata e um apaixonado pelos livros. A única coisa que ele conseguiu trazer da Espanha para o Brasil foi sua pequena biblioteca, com autores como Pablo Neruda, Antonio Machado, Cervantes e alguns poetas espanhóis”, conta Dante, que aos 13 anos – e por insistência do avô – leu Dom Quixote de La Mancha, um clássico escrito, no início do século 17, por Miguel de Cervantes.

Foi a primeira de muitas outras obras, consideradas clássicos da literatura mundial, que lhe foram apresentadas e que moldaram seus gostos e também seu destino. Dante se formou em história e foi trabalhar com educação, e acumulou um acervo de cerca de 3 mil exemplares – ele garante já ter lido mais de mil.

Como professor universitário, recebeu o convite para dar aulas de história da medicina numa grande faculdade de São Paulo, onde incorporou ao dia a dia dos alunos a leitura de livros como Admirável Mundo Novo e Frankenstein. A bibliografia se transforma em material rico para ensinar, por exemplo, bioética aos futuros médicos. Foi desse jeito, colocando a literatura na rotina das pessoas, que o projeto cresceu – existe há quase 20 anos – e se transformou, entre outras coisas, em um laboratório de leitura. Essa experiência fez brotar no professor o interesse em entender o que nos livros era capaz de modificar a vida. Foi sobre isso que conversamos.

Como um historiador foi parar na faculdade de medicina?

Há mais de 16 anos recebi o convite para montar o Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde na Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp), onde posteriormente fui dar aula de história da medicina. Só que os alunos não entendiam por que aprender história numa faculdade de medicina e chamavam minha aula de “sonoterapia”. Fiquei pensando sobre como chegar naquelas pessoas. E, então, tive a ideia de xerocar pequenos textos, clássicos da história da medicina como Hipócrates, para aproximar mais a história da vida deles.

Era uma disciplina eletiva e poucos a escolhiam. Então eu colocava 20 alunos sentados em roda e perguntava o que eles achavam da leitura, que sentimento aquele texto provocava neles. E passávamos por cinco minutos de silêncio sepulcral. Porque os alunos, de maneira geral e independentemente do curso, não estão acostumados a serem perguntados sobre o que acham ou sentem. Quando são incitados a participar, ficam muito intimidados porque, afinal, nunca alguém lhes perguntou isso. Mas, por mais que estejamos passando por um processo forte de desumanização, quando você dá espaço para que o outro manifeste seus sentimentos, esse sentir vem com força. E as pessoas passaram a se surpreender com as opiniões que tinham. Quando terminou esse primeiro ano de curso, um grupo pequeno pediu para se reunir comigo, num horário extracurricular, para seguir com a leitura.

O que você aprendeu nessas aulas?

Percebi que as pessoas se surpreendiam com o fato de terem uma opinião. E, aos poucos, iam perdendo o medo de se expor e se interessavam em falar. Costumo dizer que esse é o momento de descoberta em que as pessoas percebem que gostam de ouvir sua própria voz. Porque, no início, ouvir a própria voz numa sala de aula é quase um sacrilégio. É algo que o professor já corta na hora.

Mas depois esses encontros se transformaram em algo maior…

Sim. Passei a me reunir com esse pequeno grupo na hora do almoço e ele foi crescendo, aos poucos, pelo boca a boca, e se expandiu para alunos de outros cursos como biomedicina e enfermagem. No início, seguimos analisando os textos ligados à própria medicina, mas depois abrimos para artigos de jornal e ensaios filosóficos. Até que, um dia, um aluno sugeriu que discutíssemos uma tragédia grega: Antígona, de Sófocles. E a leitura dessa tragédia teve um impacto muito forte. As pessoas leram o texto e se emocionaram e começaram a ligar aquilo com a vida deles.

Lembro de uma moça que estudava enfermagem e comentou como o enredo de Antígona era a história dela. Ela, então, começou a contar um problema que teve no ambulatório, em relação a um paciente que havia morrido. A partir disso, eu me dei conta que através dessas leituras eu poderia discutir temas éticos. Indo além: isso deveria sempre fazer parte da formação não só dos profissionais de saúde mas de todos nós. Essa experiência me ajudou a desenvolver uma linha de pesquisa sobre humanização e estética, que deu origem ao Laboratório de Humanidades, que funciona dentro da Unifesp. Hoje, ele é um espaço não apenas para alunos de graduação como também para aqueles da pós-graduação e funcionários. Tenho grupos com um médico aposentado de 70 anos e um menino de 18 que acabou de entrar na faculdade.

Dá para dizer que a leitura fez diferença na vida dessas pessoas?

Sim. Alguns anos depois da formação desse primeiro grupo, entrevistei alguns dos participantes para descobrir o que estavam fazendo e de que forma aquela experiência impactou a formação profissional e de vida deles. E todos responderam que aquelas reuniões foram fundamentais, porque despertaram neles o interesse pela leitura. Os cursos da área de saúde são muito focados nos aspectos físicos e biológicos, e o fator humano costuma ficar mais relegado. Todos disseram que a leitura deu a eles um diferencial. Primeiro, porque se tornaram leitores, e não eram. Além disso, se tornaram bons ouvintes, o que é incrível.

Todo livro é passível de ser lido?

Um livro não é um clássico à toa. Autores como Homero, Cervantes, Machado de Assis não continuam sendo lidos, relidos e reeditados séculos depois porque têm uma boa assessoria de marketing. São obras que conseguem traduzir de maneira única o que está na alma das pessoas. Isso é um clássico. E o fator tempo é decisivo, porque os anos vão passando e a obra vai ficando. Temos autores mais modernos que podem ser considerados clássicos? Existem obras que apresentam marcas de que possivelmente se transformarão, ao longo dos anos, em um clássico. Acabei de ler um livro do escritor Valter Hugo Mãe, O Nosso Reino, que é de tirar o chapéu. É um livro muito perturbador.

Temos autores mais modernos que podem ser considerados clássicos?

Existem obras que apresentam marcas de que possivelmente se transformarão, ao longo dos anos, em um clássico. Acabei de ler um livro do escritor Valter Hugo Mãe, O Nosso Reino, que é de tirar o chapéu. É um livro muito perturbador.

Você já abandonou alguma leitura?

Já. Existem muitos livros que não valem a pena o tempo que você dispensa para a leitura. A opção pelo clássico é o caminho seguro, mesmo que às vezes seja difícil. A leitura guiada, nesses casos, ajuda muito. É isso que faço com meus grupos, vou mostrando o que deve ser observado em cada trecho do livro e como ele pede para ser lido.

Como um livro pede para ser lido?

Uma vez, trabalhei com um grupo a leitura da obra Odisseia, de Homero. Ninguém gostou, a não ser por uma única aluna, que achou maravilhoso. Então ela contou o segredo: leu em voz alta. Num segundo encontro, todos estavam igualmente maravilhados. Isso tem a ver com o tal exercício da escuta, de aprender uns com os outros. Um livro, nesse sentido, tem um potencial extraordinário de nos aproximar. E a leitura em grupo também é benéfica porque deixa de ser solitária e favorece os vínculos e a necessidade de estar junto. Isso é de um poder terapêutico enorme.

Como isso saiu da faculdade de medicina?

Os encontros do laboratório para mim eram um oásis. E passei a ser um leitor voraz. Deu um colorido à minha vida. Eu tinha sempre um livro embaixo do braço e ficava na expectativa do encontro para dividir as minhas descobertas e
percepções. Isso se tornou algo prazeroso e necessário. Aos poucos comecei a perceber que isso era muito mais amplo e que podia sair dos muros da universidade. E comecei a testar fora, em escolas e empresas [Dante dá aulas regulares na Casa do Saber, em São Paulo].

Algumas pessoas, no entanto, passaram a pedir um acompanhamento. E seguimos nos reunindo na casa dos alunos, onde houvesse uma sala ampla disponível. Até que surgiu a Casa Arca, um espaço que funciona numa casa no bairro de Moema (SP), onde há grupos de leitura dos clássicos, abertos ao público [a Casa Arca foi fundada por Dante e a esposa, Beatriz. O lugar tem grupos regulares de estudo dos clássicos, além de outras aulas que envolvem literatura, escrita e artes, como pintura, costura e o cozinhar].

Os livros já o salvaram?

Diversas vezes, o tempo todo. A literatura é um refúgio. O mundo em que vivemos é violento e difícil. E o livro me ajuda a ampliar a perspectiva da realidade. Porque a realidade não se resume a crise econômica e política ou mesmo a violência. A literatura, nesse ponto, é um remédio, porque ela derruba essas paredes. Através de um livro você viaja na história, na geografia e principalmente na alma e descobre coisas maravilhosas. Eu costumo dizer que não tomo nenhum remédio. Meu único remédio é minha leitura diária.

Fonte: Vida Simples

Terapia busca nas relações familiares determinados bloqueios

Todo mundo quer ser feliz. Em casa, no trabalho, no amor No entanto, o que realmente significa felicidade? Ainda não existe receita, mas uma terapia de autoconhecimento chamada Consciência Sistêmica já acena como uma opção.

O propósito é desenhar um caminho para se percorrer até chegar aos objetivos, reconhecendo-se e enxergando bem onde se pisa. Ela funciona a partir das constelações familiares.

A constelação familiar surgiu em1925 e foi criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger. É uma técnica terapêutica em que se desenvolvem “esculturas vivas” que reconstituem uma situação familiar, permitindo localizar e remover bloqueios de qualquer geração ou integrante da família.

Essas esculturas podem ser representadas por pessoas, quando a sessão é feita em grupo, ou com bonecos de plástico, quando é individual.

A prática consiste na criação de um campo energético. Com isso, os representantes conseguem acessar informações sobre os familiares representados.

Durante a terapia, é possível identificar as causas. Dessa forma, os medos e bloqueios são identificados, possibilitando assim um caminho para a solução dos problemas.

Fonte: Cidadeverde.com

Seis dicas para maximizar o descanso durante o sono

Dormir afeta diretamente o bem-estar físico e mental de qualquer pessoa. Uma boa noite de sono é tão importante para a manutenção da saúde quanto fazer atividades físicas e ter uma alimentação equilibrada. Mas, para algumas pessoas o merecido descanso parece ser um objetivo impossível de alcançar, o que é preocupante já que a curto prazo a privação do sono pode causar falta de energia, queda de produtividade, problemas emocionais e atrapalhar o processo de regulação de hormônios que acontecem durante o repouso.

Já a longo prazo, pode aumentar o risco de doenças como obesidade, diabetes, colesterol alto, hipertensão e, até mesmo, perda crônica da memória. Porém, ficar as 8 horas recomendadas na cama não garante que o descanso terá um impacto positivo no seu dia. A qualidade do descanso depende de outros fatores, como hábitos e opções de estilo de vida.

Segundo a consultora do sono, Renata Federighi, para manter a saúde em dia e acordar com disposição é necessário que o corpo descanse o suficiente e, principalmente, que o repouso da noite seja de qualidade. “Mais importante que a quantidade de horas dormidas é a qualidade do sono, que precisa passar por todos os estágios necessários para a recuperação das energias”, explica.

A especialista dá algumas dicas para manter o sono em dia e maximizar a qualidade das horas dormidas.

Sincronize o seu relógio interno

De acordo com a consultora, todos nós possuímos um relógio biológico interno que sofre influência de acordo com a variação da luz. Mais precisamente, pelo nascer e o pôr do sol. É por isso que dormimos à noite. Mas os “relógios” de algumas pessoas são mais atrasados do que outros. “Entrar em sincronia com o ritmo circadiano é uma excelente estratégia para otimizar o sono. Manter um horário regular para dormir, vai trazer um repouso revigorante, mais do que dormir a mesma quantidade de horas em momentos diferentes do dia”, explica Renata.

Para sincronizar esse “relógio” o ideal é sempre dormir e acordar no mesmo horário, mesmo nos finais de semana, estabeleça uma rotina para o seu sono e nada de cochilar mais do que 20 minutos durante o dia.

Fique atento com os hábitos alimentares

Também é importante evitar o consumo de alimentos gordurosos e bebidas estimulantes, principalmente nas horas que antecedem a repouso. “Durante o dia se atente ao consumo de cafeína. Ela é uma substância estimulante do sistema nervoso central. Em doses moderadas produz ótimo rendimento físico e intelectual, com aumento da capacidade de concentração e agilidade nos estímulos sensoriais. Por outro lado, doses elevadas podem causar ansiedade, nervosismo, tremores musculares, taquicardia, zumbido e aumento do estado de vigília, comprometendo o sono. Além disso, o café age no organismo até oito horas depois do consumo”, alerta.

Comer muito durante a noite também atrapalha a qualidade do sono. “Tente fazer a hora do jantar mais cedo e evite uma alimentação pesada em até duas horas antes de dormir. Alimentos condimentados ou ácidos podem causar problemas estomacais e azia” completa a especialista.

Faça exercícios diários, mas no horário certo

As pessoas que se exercitam regularmente dormem melhor a noite e se sentem menos sonolentas durante o dia. A atividade física ajuda a melhorar os sintomas de insônia e aumenta a quantidade de tempo nas fases profundas e restauradoras do sono.

Para aproveitar todos os benefícios do exercício e dormir melhor, o ideal é programa-los. “Atividades físicas aceleram o metabolismo, elevam a temperatura corporal e estimulam hormônios como o cortisol. Por esses motivos tente terminar os treinamentos pelo menos três horas antes de dormir”, explica a consultora.

Prepare o quarto para dormir

Deixar o ambiente silencioso e bem escuro é uma estratégia perfeita para que seu corpo consiga entrar em um sono profundo e restaurador. Portanto, luzes baixas e nada de eletrônicos nos minutos que antecedem a hora de dormir. O excesso de iluminação passa a mensagem de que cérebro precisa permanecer alerta, comprometendo a qualidade do descanso e o despertar no dia seguinte.

Fonte: CidadeVerde.com

Cultive a leveza

É possível lidar com as dificuldades da vida com mais leveza, suavidade e graça. E, de quebra, reduzir da rotina o rancor, o mau humor ou a dureza.

Era uma quarta-feira à noite. Eu estava na porta do Centro Cultural Banco do Brasil, de Belo Horizonte, aguardando um táxi para me levar ao encontro de uma amiga. Nessa espera, uma chuva de verão, dessas que caem de forma intensa, resolveu me fazer companhia.

Em poucos segundos, tudo começou a me irritar: a forma da chuva cair na diagonal molhando minha roupa e meus sapatos, as pessoas que se espremiam para também se proteger dos pingos e dos raios, a demora do motorista que precisou tomar um caminho mais longo por causa do congestionamento. O que seria uma espera pequena se tornou um tormento, ao menos ali, dentro da minha cabeça.

Entre o meu emaranhado de reclamações mentais, uma senhora de uns 70 anos parou ao meu lado e pediu ajuda para se abrigar. “Eu sou muito mais jovem que minhas netas. Ah lá: só sabe reclamar ao invés de agradecer”, disse sorrindo ao apontar uma moça que seguia caminhando pela calçada à nossa frente. Naquele momento, senti meu rosto corar e os músculos do meu corpo relaxaram. E eu só conseguia pensar que, certamente, aquela senhora era também mais jovem que eu.

Às vezes, colocamos tanto peso nas coisas corriqueiras que, sem perceber, vamos nos tornando pessoas rabugentas, que já parecem ter vivido uma existência inteira entre lamúrias e dias de tempestade. Maldizemos o sol, a chuva, as estações do ano, as palavras ditas na voz do outro, e criamos uma sucessão de inimigos imaginários, que rapidamente levam embora a nossa paz e principalmente a nossa leveza.

A vida com leveza depende de nós

Nesse caso, ter uma vida mais leve ou mais pesada nem tem realmente a ver com a idade ou com os quilos do nosso corpo na balança, mas com a forma com que escolhemos ver e encarar os acontecimentos em nosso dia a dia.

“A leveza com que as pessoas se preocupam hoje é a do corpo, estamos vivendo uma obsessão pela magreza. A gente não pode prestar atenção só nesse peso porque, enquanto isso, a alma engorda assustadoramente”, pontuou Leila Ferreira, jornalista, palestrante e autora do livro A Arte de Ser Leve. “Você vê pessoas com corpos esbeltos, malhados, e com almas pesando 150 quilos. Eu brinco que o grande risco que a gente vive hoje é de ver uma população com obesidade mórbida de espírito.”

E nem precisamos procurar muito para percebermos que Leila tem toda razão. No trabalho, no mercado, dentro do ônibus e até na própria casa: basta olhar com um pouco mais de atenção para identificarmos como andamos meio pesados e pouco gentis, cada vez mais estressados, intolerantes, raivosos e indelicados, presos em nossas buscas externas, nos esquecendo daquilo que trazemos por dentro.

Como me disse Leila, hoje em dia, tudo em nosso mundo nos incentiva um pouco a abrir mão de nossa leveza e a carregar esse excesso de coisas negativas dentro de nós. “É um mundo que nos estimula a correr, a nos endividar, a consumir de forma exagerada, a querer sempre mais”, afirmou a escritora. E, nessa mania incessante de buscar sempre mais e mais, terminamos nos esquecendo de viver o momento presente e de apreciar o ciclo natural de todas as coisas, carregando mais peso do que aquele que realmente nos cabe.

Um passo por vez

Mas é claro que conquistar novos objetivos também é importante para que a roda da vida continue a girar. No entanto, a leveza vai embora justamente quando essa necessidade do todo se torna uma obsessão, e as simplicidades perdem um pouco o sentido diante de nossos desejos tão grandiosos. “Quando falei que ia escrever sobre esse tema, muita gente repetiu: ‘nossa, mas o mundo com esse peso todo, como você vai escrever sobre leveza?’ E é justamente por isso: já existe tanto peso fora de nós, que a gente não precisa levar para o nosso interno”, explicou Leila.

Em seu livro, ela traz histórias reais de pessoas como eu e você, que dentro de suas simplicidades e limitações dominam com maestria e sem esforço essa arte de ser leve. São pessoas que sorriem mais diante da vida, que constroem suas histórias dentro de suas realidades particulares e que nos levam a refletir, afinal, sobre como estamos erguendo as paredes dos nossos dias e conduzindo a própria vida. “Conversei com uma cabeleireira e perguntei a ela como conseguia ser tão leve. E ela me disse: ‘tem gente que vem ao mundo de caminhão, tem gente que vem de bicicleta. Eu sou da turma da bicicleta’”, lembrou.

Caminhões, bicicletas…

Dependendo do tamanho, um caminhão pode carregar toneladas de carga. Agora, imagine passar a vida toda trafegando pelas estradas, cheios de tanto peso desnecessário? Uma hora, nosso caminhão corre sério risco de ter uma pane e paralisar, necessitando de manutenções urgentes. “Eu nunca vou conseguir passar pelo mundo de bicicleta, minha leveza nunca vai chegar a esse ponto. Mas o caminhão eu aposentei. Precisamos aprender a escolher cuidadosamente o nosso veículo”, alertou Leila.

Essa maneira como transitamos pela vida é responsabilidade nossa. Podemos seguir por aí carregando nossas angústias, nossos medos, dores e insatisfações, ou podemos diminuir um pouco essa bagagem. Mas, também, devemos prestar cada vez mais atenção em nossas ações, substituindo tanto peso por doses generosas de bom humor, gentileza e paciência com as imperfeições. Não é tão difícil assim. Reconhecer quando nossa alma pesa e propor a ela pequenas mudanças já é um passo e tanto para compreendermos a necessidade de esvaziar o bagageiro. E, mais tarde, até substituir o nosso veículo por um novo que ocupe cada vez menos espaço.

Pequenas pausas

É importante que a gente saiba também que, para quem não veio ao mundo de bicicleta, não é de uma hora para outra que essa leveza vai chegar. Tudo tem o seu tempo, não é mesmo? Leila me disse que, quando percebemos que esse “ser leve” nos falta, precisamos encontrar, entre nossos pensamentos e reflexões, a nossa própria maneira de reaprendê-lo. “Nós não paramos mais.

Estamos eliminando as pausas da nossa vida. Esse parar para pensar não existe mais”, comentou. E, se não fazemos isso, se não paramos para desacelerar um pouco, continuando pelo caminho com cargas excessivas de preocupações, dificilmente encontraremos uma forma de sermos mais leves. “Quando a gente elimina as pausas é complicado termos a consciência do que está nos angustiando, do que podemos fazer para diminuir o peso.”

Pause e retome

Por isso, bater mais uma vez naquela tecla do autoconhecimento é essencial para moldarmos nossa maneira de seguir em frente. Apenas quando compreendemos o que se passa dentro de nós e acolhemos nossas angústias, medos e até aquilo que nos deixa alegres, conseguimos ter a chance de cortar as raízes do que nos faz mal e que não harmoniza com dias de mais paz e menos peso. “Acho que uma das coisas mais essenciais hoje é a pausa. E com isso a retomada da reflexão, saindo um pouco do piloto automático”, me disse Leila.

E não precisamos parar por um tempo tão longo. Muitas vezes, alguns minutos com os pensamentos soltos, sem preocupações ou censuras, já são suficientes para iniciarmos o processo de “emagrecimento da alma”. Pois, a partir desse tempo que tiramos para nossas reflexões e para olhar nossos desejos e anseios com o coração aberto, encontramos a própria leveza que, no fundo, não carrega mistério algum: ela é tudo aquilo que torna mais simples o nosso caminho e nos liberta principalmente do mau humor e das insatisfações cotidianas.

Deixe-se contagiar

Esse encontro tão particular e intransferível pertence a cada um de nós. A minha leveza é diferente da sua, que não é igual a de seus amigos, nem de seus familiares, e por aí vai. Tenho um amigo, por exemplo, que sempre traz uma grande delicadeza no viver e me transmite uma sensação de ser mais leve quando chega. Mesmo entre a agitação de sua profissão (ele é ator), nunca o vi chateado ou maldizendo a vida.

Por isso é sempre uma alegria encontrá-lo: sua forma de ser e de sorrir contagia quem cruza seu caminho. “Cada um tem seu processo, né? Eu tento não renunciar à subjetividade. E sempre que posso construo narrativas em torno do otimismo. Fazer o que se gosta, ver gente, conversar com as pessoas, respeitar as diferenças, ser diverso e estar em contato com o que é diverso”, me contou Ramon Brant, quando perguntei de onde vem tamanha leveza.

Tire um tempo para você

Aprendi então que, mesmo sendo só nossa essa responsabilidade por uma maneira mais leve de encarar a vida, quando trazemos essa harmonia diante do cotidiano e dos obstáculos do caminho, automaticamente contagiamos quem está à nossa volta. E criamos uma espécie de onda de leveza: transmitimos em raios de distância o bem-estar que trazemos dentro de nós e tornamos mais agradáveis os ambientes à nossa volta, sem fazer qualquer esforço. “Para mim, é importante tirar um tempo para ficar em silêncio. Entender o que há de melhor na solitude, o que de melhor há em você para, depois, emanar para o mundo”, completou Ramon.

E, dessa mesma forma que ele encontrou a sua leveza dentro daquilo em que vive e acredita todos os dias, a jornalista Natália Dornellas também fez suas buscas para conduzir o caminho de uma maneira mais sábia e gentil. Há cerca de dois anos, ela passou por um episódio que poderia ter lhe arrancado toda a chance de viver de uma forma mais delicada. Foi a descoberta da doença de seu pai e todas as mudanças que se desenharam em suas vidas desde então. Senhor Adelair Toledo foi diagnosticado com degeneração corticobasal, uma doença rara que paralisa aos poucos os movimentos do corpo, dificultando a vivência de uma rotina comum.

Bom humor gera leveza

Diante de todos os impasses e dos desafios que surgiram, a maneira que pai e filha encontraram para tornar tudo mais leve foi o bom humor. “Somos assim desde sempre. Minha mãe teve esclerose lateral amiotrófica e minha avó também. Convivemos com perdas, e aprendendo a lidar com a dor de uma forma bem-humorada. Isso nos permitiu continuar pelo caminho sem maldizer a vida e suas surpresas”, contou Natália. Um pouco de suas vivências ao lado de Adelair, ela compartilha em um perfil no Instagram. É uma forma de tocar o outro e chamar um pouco a atenção para essas fragilidades e como elas não devem nos derrubar com tanto peso. “É importante que outras pessoas também vejam como dá para passar por tantas dificuldades, de um jeito leve.”

Falando assim, até parece fácil. Mas, se colocamos isso dentro dos nossos pensamentos, essa ideia de que dá para seguir encontrando alternativas para as dores e adversidades do dia a dia, não resolveremos todos os nossos problemas, é verdade. No entanto, daremos a nós mesmos a chance de lançar um olhar mais doce para a rotina e perceber que é uma questão de escolha seguir de um jeito menos duro e rude, principalmente com a gente mesmo.

Qual a sua leveza?

É claro que, como quase tudo em nossa estrada, não há um manual de instruções pronto e preciso para que possamos encontrar o nosso jeito de “ser leve”. Mas é necessário entender que, dentro de nossas limitações e das condições de vida, podemos encontrar algumas brechas que vão favorecer a nossa trajetória dentro dessa busca por um caminho que pese menos. “O Mário Sérgio Cortella diz que a leveza pede uma vida mais simples. E uma vida mais simples não é uma vida boba, simplória ou superficial. Mas é algo com menos desgaste, que nos desvitalize menos”, disse Leila.

E podemos ter essa vida, podemos reduzir esse peso interior, em qualquer lugar em que se esteja. Talvez diminuir a carga de trabalho, consumir cada vez menos, criar pequenas pausas em nossos afazeres, ter momentos de lazer, sejam coisas que até parecem pequenas, mas que no fim, na soma de tudo, contam muito na balança de nossas emoções.

“Acho que, dentro das nossas limitações, conseguimos fazer essas mudanças internas que favorecem a leveza”, concluiu Leila. Só quando identificamos e colocamos em prática essas pequenas mudanças que podemos realizar a curto e a longo prazo. Dessa forma, estamos efetivamente diminuindo o excesso de peso nas relações e no dia a dia. E podemos, enfim, respirar melhor. Afinal de contas, não desejamos de forma alguma continuar transitando por aí com um caminhão transbordando angústias, não é mesmo?

Nesse trânsito da vida, eu já escolhi o meu novo veículo. E você, já sabe qual é o seu?

Fonte: Vida Simples

Não fale que “vai passar”: veja como ajudar uma pessoa com ansiedade

Uma ajuda equivocada pode aumentar ainda mais a ansiedade causando mais sofrimento ao indivíduo.

Conviver com a ansiedade é um desafio, pois ela provoca uma tentativa de controle que, muitas vezes, antecipa situações que supostamente podem trazer sofrimento. Existem tipos distintos de ansiedade, desde aquela mais branda que gera maior expectativa, até transtornos classificados como patologia. E uma pessoa em crise de ansiedade pode desenvolver sensações de incerteza, medo e angustia, alimentando um padrão de pensamento que só espera pelo pior.

Nessa hora, não adianta apostar em frases otimistas para tentar estimular a pessoa a reagir. Menos ainda, menosprezar a situação como se fosse algo fácil de ser superado. “Uma palavra faz diferença desde que seja empática. E, às vezes, o que vale mesmo é escutar mais e falar menos”, avisa o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do programa de ansiedade do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Uma ajuda equivocada pode aumentar ainda mais a ansiedade causando mais sofrimento ao indivíduo, por isso é importante eliminar tudo que, ao invés de ajudar, só atrapalha. Saiba como oferecer apoio na medida certa:

1. Deixe o otimismo de lado

A intenção pode ser boa, mas na hora da crise ninguém está pronto para ouvir frases como “vai passar” ou “tudo vai dar certo”. Este tipo de apoio é irritante, pois o ansioso pode interpretar que o outro está desmerecendo sua dor. Em um momento de crise é muito difícil vislumbrar uma situação positiva, pois tudo parece ser muito difícil. Portanto, evite frases feitas inspiradas em autoajuda.

2. Evite dar um tranco

Definitivamente bancar o durão para fazer o outro reagir não vai funcionar. Este não é o momento. É essencial mostrar apoio, mas sem pressionar. Falar coisas como “Você é forte e vai superar” ou “Precisa enfrentar” só faz o outro sentir-se desvalorizado. Os especialistas entrevistados pelo UOL VivaBem classificam esse tipo de ação como reforço negativo, pois o ansioso irá se sentir ainda mais fraco, e sua autoestima, que já está abalada, ficará pior.

3. Ouça mais

Pode acontecer de o ansioso querer desabafar, escute! Nessa fase, não aposte em avaliações e julgamentos para não causar desmotivação e ele desistir de se abrir. No entanto, não force este diálogo dizendo: “me conta o que você está sentindo” ou “o que está pensando”, pois isso pode gerar mais ansiedade. Respeite o tempo da pessoa!

4. Demonstre preocupação sincera

Independentemente do tamanho da crise, o diálogo deve ser afetuoso. Vale apostar em um “eu entendo você, vamos dar um tempo até que passe, estou aqui com você”. Uma crise de ansiedade dura, em média, 25 minutos, portanto permaneça ao lado demonstrando empatia. Evite, porém, preocupação excessiva porque isso aumenta a ansiedade. Aja de maneira natural, sem transformar o episódio em uma catástrofe.

5. Procure distraí-lo com lembranças boas

É possível tentar desviar a atenção da pessoa, falando sobre algo aleatório ou relembrando coisas boas que já aconteceram ou que estão programadas, como uma viagem, por exemplo. Faça isso com muita atenção para não dar a impressão que está desqualificando aquele momento de ansiedade, tentando apenas desviar o foco. Com sensibilidade dá para notar se deve continuar com essa estratégia. O ansioso vai demonstrar receptividade ou não. Se ele não gostar, simplesmente pare.

6. Convide-o para dar uma volta

Nem sempre o ansioso terá disposição para algum tipo de atividade mais prazerosa, mas vale como tentativa convidá-lo para dar uma volta, fazer uma caminhada leve, respirar um ar diferente. Só não insista! Deixe-o livre para aceitar ou não. E se durante a crise ele não aceitar, diga: “quando você melhorar podemos fazer algo juntos”. Isso mostra acolhimento, pois o ansioso tende a se sentir sozinho. E oferecer qualquer solução pronta de maneira automática pode causar rejeição.

7. Não ofereça uma bebida

O álcool pode até parecer relaxante, mas não é uma boa saída. Pois, sempre que surgir a crise ele poderá associar a bebida como forma de alívio. Tenha cuidado para não criar maus hábitos que não ajudam efetivamente, apenas mascaram o sintoma.

8. Elimine expectativas ou suspenses

Quem convive com alguém muito ansioso precisa ser mais objetivo e assertivo, portanto, evite qualquer tipo de tensão. Não fale “vamos, estamos atrasados” ou “estou com um pressentimento ruim”, pois isso irá poupá-lo de ter uma crise. Outra dica é não marcar compromissos e atrasar, ou demorar para responder mensagens, pois tudo isso pode deixá-lo em estado de ansiedade.

9. Saiba reconhecer uma crise de ansiedade

Isso pode ajudar a prestar apoio no momento em que o ansioso mais precisa: durante uma crise. A agitação física pode ser um dos primeiros sinais: ficar balançando braços e pernas, se estiver em pé, ficar caminhado de um lado para outro, tremor, suor e parecer ofegante. Também dá para notar que algo está fora do ponto pela forma como se comunica, ou seja, sua fala está sempre prevendo algum acontecimento ruim, como: “ele não gosta de mim” ou “não gostam do meu trabalho”. Ao observar esses sinais, aumente a atenção e ofereça ajuda na medida certa.

10. Dicas simples para lidar com a ansiedade

Quer ajudar? Ofereça sugestões práticas e efetivas. Uma é sugerir melhoras no planejamento do ansioso, já que mantendo sua rotina mais controlada pode evitar situações que possam fugir do controle. Neste caso, sugerir uma planilha com compromissos e horários pode deixá-lo mais seguro, sem a sensação de que poderá esquecer algo importante.

A ansiedade também costuma afetar muito o sono, causando mais agitação. Por isso, sugira que ele deixe uma folha e caneta ao lado da cama e, se lembrar de algo importante para o dia seguinte, anote! Ao fazer isso, o ansioso divide sua responsabilidade com o papel e afasta pensamentos recorrentes que atrapalham o sono.

Fonte: UOL
Texto: Simone Cunha

Cuidarte ganha decoração sustentável

A decoração natalina da Clínica de Psicologia Cuidarte, em Teresina (PI), ganhou criatividade e sustentabilidade neste Natal 2019. 1.350 garrafas foram utilizadas para a confecção de peças e enfeites natalinos a partir da reciclagem de materiais que seriam descartados.

O projeto foi realizado pelos artesãos da cidade Ipiranga do Piauí, que há alguns anos se utilizam da mesma ideia para decorar a cidade com esse material.  A decoração levou cerca de quinze dias para ficar pronta – desde a arrecadação dos descartáveis até a confecção de novos enfeites.

De acordo com a diretora da Cuidarte, psicóloga Kyslley Urtiga, a proposta tem como objetivo mostrar para as pessoas que é possível  fazer uma decoração sustentável, preservando assim o meio ambiente.

“Atualmente plástico é um dos grandes violões do Meio Ambiente. Ao apoiarmos um projeto como este, estamos abrindo um canal de comunicação direto com a sociedade para passarmos a mensagem sobre a importância e a necessidade da reciclagem”, pontuou Kyslley.

Clínica Cuidarte

Referência no atendimento psicológico do Piauí, a Clínica Cuidarte possui uma equipe de psicólogos qualificados nas mais diversas áreas de atuação, que reúnem conhecimento e experiência prática na busca da excelência nos atendimentos.

A Cuidarte preza pelo acolhimento, proporcionando aos clientes um espaço de reflexão, escuta empática e autocuidado, fazendo com que a experiência na clínica se torne mais agradável e positiva.

A Cuidarte oferece horário diferenciado aos serviços especializados de psicologia, das 8h às 21h. Além de possuir uma localização privilegiada no coração da cidade, na Zona Leste de Teresina. Av. Homero Castelo Branco, 2676.

 

Como enfrentar o medo de mudança

Nosso cérebro foi projetado para a sobrevivência, não para a felicidade.

A vida é mudança, mas a mudança nos assusta. Às vezes, dá vontade de fazer coro à reflexão de Mafalda: pare o mundo que eu quero descer. A origem desse mal-estar está na biologia. Segundo o arqueólogo espanhol Eudald Carbonell, codiretor das escavações de Atapuerca (Espanha), nosso cérebro é o resultado de 2,5 milhões de anos de evolução. Levamos muito tempo vivendo em cavernas e pouco tempo em cidades. Isso significa que temos “codificadas” respostas automáticas para responder com sucesso às ameaças daquela época. Se agora vemos um leão solto passeando pela rua, nosso cérebro não perderá tempo tentando saber de que subespécie ele é; simplesmente nos mandará sair correndo para sermos mais rápidos – não mais do que o felino, e sim de quem está ao nosso lado (também temos outra alternativa: a de ficarmos congelados, esperando que o leão não nos veja).

No entanto, esses circuitos tão maravilhosos, que nos permitiram chegar até aqui como espécie, não estão preparados para enfrentar ameaças mais sutis, como a digitalização, as mudanças de regulação de um setor ou a possibilidade de ficarmos sem emprego. Esses medos são novos, evolutivamente falando, e por isso nem sempre nos damos bem com a transformação. Recordemos uma máxima importante: nosso cérebro foi projetado para a sobrevivência, não para a felicidade. Diante de mudanças, portanto, temos que encontrar uma forma de navegar por elas, entendê-las como oportunidades e aprender com as suas possibilidades. E isso não é automático como sair correndo ante uma ameaça. Exige esforço, treinamento e capacidade de superar os medos que nos afligem.

A gestão da mudança é hoje mais difícil do que nunca, mas também mais fácil do que no futuro. Por um motivo simples: a velocidade. Para se ter uma ideia da magnitude, há 10 anos tínhamos 500 milhões de aparelhos conectados à Internet. Em 2020, estima-se que serão 50 bilhões; em uma década, um trilhão. Ou seja: estamos só no começo. Isso sem falar do que virá por meio da inteligência artificial, da criopreservação de nossos corpos, dos avanços genéticos e das viagens espaciais. Estamos apenas no início de um tsunami que transformará a forma como nos relacionamos, trabalhamos e vivemos. Portanto, vêm aí mais e mais mudanças. A boa notícia é que nosso cérebro, embora provenha da época das cavernas, tem uma enorme plasticidade que lhe permitiu chegar até aqui e construir toda uma tecnologia que está revolucionando o mundo.

Por isso, temos uma margem de manobra. Vejamos como podemos começar com dicas muito simples.

Primeiro, precisamos de treinos diários da nossa mente. Assim como existem academias para o corpo, devemos colocar em forma o músculo do cérebro. Todos os dias – todos – fazer algo diferente. Ler fontes de informação variadas, ir ao trabalho por outro caminho, experimentar um sabor exótico… o que for. Mas aceite o desafio de fazer algo novo diariamente. A aprendizagem é o melhor antídoto contra o medo.

Segundo, precisamos relativizar o que nos acontece. Um bom método é, paradoxalmente, ler história. Devemos perceber que, embora vivamos no tsunami da mudança, foram justamente todos esses avanços que nos permitiram aumentar nossa esperança de vida e não sofrer por possíveis epidemias ou por guerras mundiais. Na medida em que tivermos perspectiva, poderemos entender a parte benéfica.

Terceiro, devemos buscar a “desdigitalização”. Apesar da velocidade que nos rodeia, precisamos encontrar a conexão com nós mesmos e com o próximo. Se vivermos sempre expostos aos impactos da Internet, não teremos tempo para integrar a aprendizagem e encontrar os oásis necessários a uma certa tranquilidade. Por exemplo, você pode abrir mão do celular no fim de semana ou deixá-lo no modo avião.

Por último, precisamos confiar. Afinal, tudo tem solução – melhor ou pior, mas tem. O que nos asfixiava anos atrás, como a prova do colégio ou um conflito difícil, agora não nos parece tão terrível. E se fomos capazes de driblar situações difíceis, por que não poderemos fazer isso com o que temos agora?

Por isso, na medida em que confiarmos, mantivermos a curiosidade e a aprendizagem, soubermos relativizar e criarmos espaços de paz, poderemos encontrar recursos para contemplar a mudança de maneira mais positiva e construtiva.

Fonte: ElPais/PILAR JERICÓ

Memória como um direito

A forma de contar uma história pode repercutir de inúmeras formas na vida dos sujeitos-alvos das narrativas. Na visão da psicóloga e psicanalista, Joice Silva dos Santos, a memória do povo negro foi usada, ao longo dos anos, como símbolo para uma trajetória de servidão e massacre. E para encerrar o racismo é também preciso que se findem essas narrativas únicas.

“Crescemos acreditando, pessoas brancas e pessoas pretas, que os negros nasceram para a servidão, que nossa história no Brasil começou nos navios negreiros, mas nós não viemos, não brotamos de navios. O acesso à memória vai ser um dos mecanismos de cura e cuidado de uma sociedade racista e colonizada para com o povo negro”, destaca.

Joice afirma que, para isso, é necessária uma atuação em várias frentes. “Precisamos de um movimento social, de um reconhecimento do governo que, de fato, no Brasil existe racismo e que ele possa ser abordado como uma tecnologia de sofrimento e dominação. Para, assim, criarmos técnicas que possam mudar isso. Intervir de maneira focal, mas produzir movimentos macros e micros, que sejam capazes de acionar uma memória que a gente não teve direito”, reafirma.

É nesta perspectiva que a educação contribui de uma forma tão direta para situar as novas gerações com o contato da história para além das narrativas do negro, ligado apenas à opressão e à violência. Ao subverter esses pensamentos, subverte-se, também, a produção de sofrimentos causados pelo racismo. “Precisamos de representação para que a gente possa produzir, de fato, a ocupação real dos espaços de poder. Para que eu consiga me ver de outras maneiras, porque eu crio uma sociedade extremamente racista em que pessoas negras só aparecem na TV enquanto domésticas, empregadas, prostitutas, criminosos, eu estou dizendo para pessoas pretas que é esse o destino delas e estou dizendo para pessoas brancas
que é dessa maneira que elas devem nos enxergar. E não vamos aceitar mais isso”, finaliza.

Fonte: Jornal O Dia/ Glenda Uchôa

Como a internet pode estar transformando nosso cérebro

Segundo um estudo, quem não sai da internet faz muitas coisas, mas não se fixa a nada.

Acordei há alguns dias com quatro coisas na cabeça: queria desejar feliz aniversário a uma amiga, não podia esquecer de pagar uma conta, precisava consultar a bula de um remédio e assistir a um trecho de um documentário antes de dar uma aula. Menos de uma hora depois, todas as tarefas estavam cumpridas. E eu ainda estava na cama. O milagre se chama internet. Não há dúvida de que a rede revolucionou a nossa forma de fazer quase tudo, da busca por informações à maneira como nos relacionamos uns com os outros. Mas há índicos de que o impacto dela nas nossas vidas seja bem maior do que esse.

Pesquisadores de nove universidades, entre elas as respeitadas Oxford e Harvard, decidiram avaliar o que já se sabe com alguma consistência acerca do impacto da internet sobre nossa cognição —o processo de aquisição, armazenamento e interpretação dos estímulos e das informações.

A conclusão é, no mínimo, um alerta: a rede parece estar mudando a estrutura anatômica e o funcionamento do nosso cérebro. E isso estaria acontecendo, principalmente, nas regiões associadas à atenção, à memória e às habilidades sociais.

As primeiras pistas sobre essas mudanças, segundo a análise recém-publicada, surgiram há uma década. Em 2009, uma pesquisa da Universidade de Stanford contrariou as expectativas e mostrou que estudantes que faziam uso excessivo da internet e nela realizavam diversas atividades ao mesmo tempo tinham desempenho pior ao realizar múltiplas tarefas no mundo real do que jovens com poucas horas de navegação.

A “prática extra”, portanto, não se converte na habilidade de resolver sucessivos desafios que exijam atenção sustentada. E uma análise mais detalhada desses achados sugere que isso se dá porque os internautas convictos são mais suscetíveis à distração por estímulos ambientais irrelevantes.

Cinco anos depois a mesma Stanford, junto com a Universidade de Boston, trouxe uma possível explicação para a desatenção que parece afetar o grupo que não sai da internet: eles fazem muitas coisas, mas não se fixam a nada. O tempo médio para que pulem de uma página para outra é de míseros 19 segundos. E 75% do conteúdo exibido fica menos de um minuto na tela.

Nos anos seguintes, comparações entre resultados de exames de ressonância magnética funcional mostraram que pessoas que declaram usar a rede “sempre” ou “na maioria do tempo” têm menos massa cinzenta nas regiões do cérebro associadas ao foco, à persistência e à manutenção de metas. Ao mesmo tempo, essas pessoas, diante de um estímulo capaz de distraí-las, ativavam muito mais essas regiões cerebrais atrofiadas _o que pode ser traduzido como um esforço adicional para tentar manter a atenção.

Estamos perdendo o foco e também a memória. É como se a facilidade de acesso às informações tivesse nos libertado da necessidade de armazená-las.

Um estudo experimental feito com 50 voluntários constatou, inicialmente, o óbvio: aqueles que usam a internet localizam as informações mais rapidamente do que os que recorrem às enciclopédias impressas. Horas depois da busca, porém, os internautas têm mais dificuldade de se lembrar do que pesquisaram.

A explicação, mais uma vez, aparece nos estudos de imagem feitos no cérebro desses voluntários enquanto eles faziam uso dos livros ou dos sites de busca. Os exames mostram que a coleta de informações online, embora mais rápida, não recruta na mesma intensidade as regiões cerebrais responsáveis por armazenar informações a longo prazo.

Não, não! Não desligue o computador.

O mundo está online! E a tecnologia digital já é parte irreversível da vida. A internet facilita todos os dias nossa busca por informações, agiliza nossas compras, aumenta nossas possibilidades de lazer e até faz cruzar a nossa tela, quando a gente menos espera, a foto daquele amigo querido.

O problema, definitivamente, não é a internet. É o uso que fazemos dela.

Paracelso já dizia, lá no século 16, que a diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dose.

Sílvia Corrêa
É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.
Fonte: FDS

O uso prolongado de computadores e celulares afeta o seu sono desta forma

Tecnologia transformou o significado dos sonhos, fazendo da noite uma espécie de dia virtual.

Os sonhos são a paisagem do nosso mundo interior. Enquanto dormimos, nossa imaginação transforma o real, e dessa maneira nos dá um contexto para a experiência diurna. A mente, em sua agitação noturna de imagens e histórias, cria um incessante jogo de esconde-esconde com os sentimentos, com a memória e com nossos interesses e preocupações do dia. Apesar de serem intrinsecamente ambíguos e estarem abertos a múltiplas interpretações, os sonhos têm uma gramática que nos oferece um panorama da arquitetura da mente e das camadas entretecidas de elementos psicológicos que a compõem. Nelas, a atualidade e as vivências do passado recente e remoto convergem em formas notavelmente fluidas.

Sigmund Freud observou que uma das propriedades do inconsciente é a tolerância às contradições. Elas aparecem com frequência nos sonhos e nos mostram uma habilidade especial da mente para associar coisas que aparentemente carecem de características comuns. O sonho cria novas categorias que de outro modo nunca teríamos notado. Isso não é raro, é parte de sua estranheza comum. Já aconteceu com todos nós: como quando sabemos nesse estado que alguém é o nosso melhor amigo, mesmo que não se pareça com ele. Em outras circunstâncias, insistiríamos em corrigir o mal-entendido, mas não aqui. O sonho é uma experiência subjetiva fora do nosso controle, que nos oferece uma apreciação da interação íntima entre nosso mundo interior e o mundo social em que nos locomovemos.

Por este prisma podemos penetrar nos mistérios da mente e em sua relação com a cultura e a tecnologia. É extraordinário que Freud descobrisse esta chave nas atividades mentais de uma pessoa adormecida. Os sonhos como guia do inconsciente foram a base de suas teorias sobre os pensamentos reprimidos, que afloram enquanto dormimos. O professor de psicologia Daniel Wegner, de Harvard, sustenta que essa descoberta de Freud cria uma ponte com os avanços atuais das neurociências cognitivas. Estudos de imagens cerebrais confirmaram: a desativação da função inibitória da área pré-frontal do córtex cerebral durante o sono permite liberar os pensamentos que foram suprimidos durante a vigília e que contêm fatos relacionados com a memória reprimida.

A maioria das pesquisas do sono concorda que ele promove o processamento cognitivo e contribui para a plasticidade cerebral. E que a falta de sono altera a transmissão de sinais no hipocampo, que é a área do cérebro onde se processa a memória em longo prazo. Estas observações foram confirmadas em outras espécies. Os estudos com moscas Drosophila realizados por Jeff Donlea e seus colaboradores da Universidade de Washington mostram que o sono não restaura apenas a capacidade de aprendizagem, mas também melhora a duração das lembranças.

Entretanto, apesar do papel central dos sonhos nos processos mentais, seu significado veio se transformando sob o efeito da tecnologia, porque ela tem a capacidade de nos desvincular do nosso mundo interior. As imagens desses contextos empalidecem em comparação às da realidade aumentada à qual estamos constantemente expostos por meio dos dispositivos inteligentes. É como se fôssemos absorvidos por uma corrente de sonhos pré-fabricados. Fica difícil neutralizar a sobre-excitação que eles causam em nosso cérebro. O uso prolongado do computador, do celular ou da televisão altera o ciclo do sono e transformou a noite praticamente em um dia virtual. Por outro lado, ao ligá-los imediatamente depois de acordar, os sonhos e suas ressonâncias diurnas são deslocados pelas imagens digitais, que disputam nossa atenção e acabam nos seduzindo.

Não obstante, os sonhos continuam sendo a realidade virtual original. São uma experiência intensamente pessoal, e por isso extremamente relevante. Mantêm nossa mente aberta a perguntas nunca antes formuladas, permitem explorar tabus e a falta de sentido, sem que ninguém nos observe nem nos julgue; dão uma imagem a situações que geram ansiedade e a eventos traumáticos, o que ajuda a processá-los. Enquanto sonhamos, nossa experiência noturna nos induz a vislumbrar o vasto reino da imaginação e do pensamento criativo. Como afirma o psicanalista Thomas Ogden, os sonhos permitem brincar livremente com as ideias fora do entorno do controle consciente. Esta liberdade de sonhar é possível graças à proteção da privacidade.

Para o nosso cérebro, o simples fato de ter sonhado já é suficiente, mas aqueles que de vez em quando recordamos podem nos beneficiar significativamente em nossa vida diurna e nos ajudar a refletir sobre seu conteúdo. O que está em jogo é uma conexão essencial com nosso mundo interior. Que pensamentos vêm à mente? Que emoções provocam? O que pode ter precipitado o sonho daquela noite? E se ao despertar a lembrança se evapora, não é preciso se preocupar. De fato, só recordamos cerca de 10% deles. Pense que, afinal de contas, são apenas sonhos.

*David Dorenbaum é psiquiatra e psicanalista.
Fonte: ElPais