A importância de se ter amigos e como mantê-los sempre perto

Ter amizades sólidas é tão importante que estudos mostram que a falta de amigos é comparável a problemas provocados por obesidade, abuso de álcool e consumo de 15 cigarros por dia.

“Eles são a família que escolhemos”, diz o ditado popular. E é isso mesmo: além da família, os amigos são as pessoas com quem vamos estabelecer vínculos mais significativos e duradouros durante a vida. E, em cada etapa dessa jornada, eles têm um papel importante para o nosso desenvolvimento psíquico e social.

“Enquanto na infância eles ajudam na socialização do indivíduo, na adolescência eles são importantes para ajudar o indivíduo a construir sua identidade e formar uma imagem de si”, explica a psicóloga Natália Tavares Pavani Araújo, psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Já para os idosos, eles são fundamentais para combater a solidão, o que pode influenciar até mesmo na saúde dele.”

Sim, ter amigos é fundamental para viver uma vida mais saudável e até mais longa —e há inúmeros estudos a respeito disso. Por exemplo, uma revisão de 148 estudos feita nos Estados Unidos por especialistas da Brigham Young University e da University of North Carolina mostrou que pessoas com amizades sólidas tinham 50% mais chances de sobrevivência.

Mais que isso: os autores concluíram que os efeitos da falta de amigos são comparáveis aos problemas provocados pela obesidade, pelo abuso de álcool e pelo consumo de 15 cigarros por dia.

Mais recentemente, um estudo da American Cancer Society concluiu, após analisar dados de mais de 500 mil adultos, que o isolamento social aumentava os riscos de morte prematura por qualquer causa.

As amizades também são fundamentais para que possamos externalizar sentimentos e demonstrar afeto e amor, o que é fundamental para a nossa saúde mental. “É um tipo de relacionamento que nos ajuda a ser mais humanos em nossas vidas”, afirma Cristina Borsali, psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo

Seja no trabalho, na escola ou na vida, fazer conexões é algo tipicamente humano —como seres sociais que somos, precisamos dessa interação para nos sentirmos validados e acolhidos. “Eles são a nossa biografia viva, são testemunhas do que vivemos”, diz Araújo.

Ao longo da vida, no entanto, é comum que os caminhos sigam por rotas diferentes e muitas amizades fiquem no passado. Em 1993, o antropologista Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, ficou famoso por dizer que, cognitivamente, cada pessoa seria capaz de ter, no máximo, 150 relações sociais estáveis —o dado ficou depois famoso e conhecido como “número Dunbar”.

Mas o próprio Dunbar reconheceu, anos depois, que as redes sociais poderiam ser responsáveis por aumentar esse limite, permitindo uma maior interação com pessoas com quem falaríamos pouco por conta de questões geográficas, por exemplo.

Seja como for, a amizade, como qualquer relacionamento, também precisa ser cultivada para que permaneça viva. Confira a seguir algumas formas de ter seus amigos em sua vida por mais tempo:

Mantenha contato

Parece óbvio, mas, na rotina corrida que levamos, é bastante comum deixarmos para marcar um encontro, fazer uma ligação ou mesmo enviarmos uma mensagem para depois —só que esse depois nunca chega. “Ambos têm que investir na relação e isso inclui abrir espaço na agenda para um café, um momento para conversar, desabafar ou pedir conselhos”, diz Araújo.

O(a) amigo(a) mora longe? Agendem uma conversa pela internet ou marquem de se falar ao telefone em algum momento em que os dois possam dialogar com calma. Tente fazer isso de forma regular sem esperar um grande motivo, pois isso pode demorar a acontecer.

Conecte-se emocionalmente

Uma vez que vocês tenham marcado um momento para conversar, esteja lá. Isso quer dizer deixar o celular de lado e voltar toda a atenção para aquele momento. “Preste atenção ao que a pessoa está falando naquele momento e seja empático”, diz Araújo.

Além de mostrar que se importa com a vida da pessoa, você ainda cria um ambiente de acolhimento. “Nós precisamos abrir e até rir de nós mesmos, e só fazemos isso quando nos sentimos confortáveis”, explica a especialista.

Participem da vida um do outro

Estar próximo é essencial em uma amizade, especialmente quando estamos celebrando algo importante —e queremos dividir a emoção do momento— ou vivendo um momento difícil —e precisamos saber que não estamos sozinhos.

É o que uma pesquisa da Universidade de Puget Sound, nos EUA, chamou de “apoio à nossa identidade social”. Ou seja, queremos amigos que entendam quem somos e validem nossa importância na sociedade, aumentando nossa sensação de pertencimento e favorecendo a construção da autoestima.

“Estar presente não é apenas comemorar o aniversário ou apoiar um luto”, explica Borsali. “É preciso compartilhar mais momentos pelo simples fato de gostar daquela pessoa, da companhia dela”, diz.

Conserve o respeito e a confiança

Se o amigo fez algo que desagradou ou está passando por uma fase problemática, não vá falar mal da pessoa para outro colega. “Um dos princípios básicos da amizade é a lealdade e a sensação de proteção que esse relacionamento gera em nós”, diz Bosali. “Se aconteceu alguma coisa desagradável, o melhor é procurar o amigo para conversar, demonstrar preocupação e abrir o jogo sobre como aquilo o fez se sentir”, acredita a especialista.

Isso também vale para quem acha normal espalhar fofocas ou sair contando os problemas ou segredos que foram confiados a você. Do contrário, você corre o risco de fazer com que o amigo se sinta traído.

Mantenha o coração aberto mesmo nas discussões

Desentendimentos são absolutamente normais, especialmente em amizades muito longas. Nesse momento, vale respirar fundo e tentar conversar para chegarem a um acordo. Vale ainda focar no que importa: o carinho e os bons momentos que passaram em toda a história de vida juntos.

“Quando divergimos, tendemos a desqualificar qualquer coisa que a pessoa fale”, afirma Araújo, que reforça a importância de sermos mais tolerantes e saber ouvir os argumentos do outro de coração aberto. “Não existe relação em que duas pessoas concordam 100% das vezes”, diz.

Esse exercício é um dos motivos que tornam a amizade fundamental para o desenvolvimento psicológico do ser humano. “Isso gera um amadurecimento pessoal muito importante”, afirma Bosali.

Fonte: UOL
Edição: C.S.