Alegria e Luto, combinam?

Durante a folia de Momo no Brasil deparei-me com comentários nas redes que diziam “Poxa! Ela acabou de perder o pai e já esta no carnaval; Nossa! Faz uma semana que fulano faleceu e você já esta rindo assim…”

Por muito tempo crenças sobre os comportamentos dos enlutados foram perpetuadas. É comum ouvirmos regras sobre a vestimenta, o que se deve ou não fazer ou até mesmo sobre o que se pode ou não comer. Certa vez uma cliente relatou-me que não poderia assistir televisão e tampouco sorrir durante o seu luto. Quebrar essa regra faria dela a pior pessoa do mundo, e acredite, ela sofreu por anos por ter essa crença como uma verdade absoluta. Finalmente, decidiu buscar ajuda profissional para se libertar dessas crenças e seguir com seu luto normalmente.

Assim como o relato citado, muitas pessoas estão paralisadas na dor do seu luto por conta de tais regras de comportamento. Esses preceitos não colaboram para que o luto siga o seu curso natural. Ao contrário, acabam trazendo mais sofrimento a um processo que já é angustiante por natureza. O problema maior dessas regras é que elas colocam o comportamento do enlutado dentro de um padrão de sofrimento, fato que é assustadoramente absurdo!  As pessoas não sentem ou expressam suas dores da mesma forma. Deixa eu explicar melhor…. Quando  o enlutado se sente fora do padrão de comportamento esperado, alguns pensamentos depressivos surgem:

  • o que os outros vão dizer ao me ver sorrir?
  • Sou uma pessoa ruim.
  • Eu deveria esta em casa chorando…

 

Dessa forma, o luto deixa de ser normal para se tornar um luto complicado, podendo inclusive, acarretar  depressão. Como assim? Luto e depressão não são a mesma coisa? Não. E já escrevi sobre aqui.

E qual a maneira correta para o enlutado se comportar? Bom, não existe uma maneira correta para se comportar, bem como não há um tempo mensurado para passar a dor. Existem pessoas que levam meses, outras semanas, dias… Enfim, o que de fato determinará a forma de reagir de cada um será o vínculo com o falecido, a forma da morte (repentina ou não; violenta ou não), nossa rede de apoio social e a capacidade individual de reagirmos perante as dores da vida.

O que na verdade precisamos é nos educarmos para a morte. Colocar isso em pauta não significa que iremos morrer imediatamente ou atrairemos a morte. Educar-se para a morte é praticar resiliência, é compreendermos a nossa finitude para que possamos conviver naturalmente com o fato de que todos nós um dia morreremos.

Portanto, ao se deparar com um enlutado que esteja se divertindo, tentando seguir sua vida normalmente etc; o melhor é não dizer nada. Às vezes, as palavras são desnecessárias. Ofereça seu apoio e talvez um abraço. Deixe-o livre para, assim, compreender que não está sendo julgado por seus comportamentos. Logo, você contribuirá para que o luto não se torne uma doença.

 

Por Karoliny Damasceno, psicóloga da Clínica Cuidarte (CRP 21/02309)