Verdades secretas sobre abuso sexual e psicológico

abusodentroA sutileza da permissividade da cultura machista permeia muitos abusos.

A novela Verdades Secretas, que chegou ao fim na última sexta-feira, discutiu um assunto de extrema importância e, de fato, mantido secreto ou velado sob os tapetes da vida cotidiana da violência que grassa na contemporaneidade. Rapidamente os temas tratados, além do abuso sexual e violência psicológica, como o alcoolismo, falta de valores éticos, drogas e prostituição passaram a ser top trend nas redes sociais e rodas de conversa entre amigos e conhecidos.

Mas a trama principal se sobressaiu. A questão do abuso psicológico seguido do abuso sexual praticado por um homem maduro com uma adolescente dividiu opiniões, uns entenderam que ela era a ‘culpada’ e ‘desavergonhada’, pois se deixou seduzir, permitiu. Já outros compreenderam que a personagem foi vítima da sedução e de abuso.

O pacto do silêncio que envolve o tema, tem sido um grande desafio, pois por muitas vezes procuramos encobrir a existência de tão incômodo problema. Esse desconforto se torna ainda mais evidente quando, além de tratar-se de um processo de vitimização sexual, as vítimas são crianças ou adolescentes, principalmente nas situações em que a violência ocorre dentro do âmbito da família, numa situação de incesto.

Denomina-se vitimização sexual à participação de uma pessoa em uma situação erótica, mediante coerção física ou psicológica. Deve ficar claro que o objetivo de uma vitimização sexual é sempre a satisfação do prazer do agressor, embora muitas vezes ouça do agressor que a vítima o provocou, insinuando-se para ele.

A violência sexual pode correr dentro ou fora dos limites familiares. Os casos de vitimização intrafamiliar são os mais comuns estatisticamente.

De fato, o horror social ao incesto é tão intenso que estudar esse aspecto do comportamento humano é algo que nos incomoda e aflige. O conceito de lar e família como refúgios intocáveis, onde cada ser humano consegue proteção contra o mundo adverso e hostil, é algo que nos é muito grato cultivar.

Existe uma baixa frequência de queixas, tão em desencontro à elevada frequência dos episódios, pode ser compreendida se levarmos em conta a estrutura ainda machista de nossa cultura. O que ocorre é que frequentemente, numa curiosa e perversa inversão, a vítima é transformada em culpada, sendo incriminada de provocar a vitimização.

Outro fator que torna mais difícil o surgimento das queixas é o relativo pouco crédito que crianças e adolescentes gozam entre os adultos. Vistos como sonhadores, como vivendo em um mundo fictício, é frequente que as poucas referências que tem coragem de expressar sejam vistas como invencionices, os que as faz temer ainda mais revelar o processo. Isso é ainda mais evidente nos casos de violência sexual intrafamiliar, onde um pai, padrasto, tio ou mesmo irmão mais velho não pode ser acusado, visto que tal revelação pouco crédito teria. Por esses fatores, não é por raro que tais casos de violência sexual intrafamiliar passem “despercebidos” dos familiares, indo surgir como queixa numa psicoterapia, muitos anos depois…

Consequências da Violência Sexual
• Aspectos anatômicos e funcionais (traumas – vaginais ou anais – são altas em qualquer situação de vitimização sexual)
• Consequências orgânicas da violência sexual (lesões físicas gerais, lesões genitais, lesões anais, gestação, doença sexualmente transmissíveis, consequências psicossociais, diminuição na autoestima, imaturidade emocional, problemas educacionais, problemas interpessoais de relacionamento, depressão, ajuste sexual difícil).
Tendo-se em vista todas as características emocionais descritas como consequentes ao processo de vitimização sexual, é esperável que tais pessoas tenham dificuldade em ter uma visão positiva do exercício da sexualidade. As disfunções sexuais surgem e necessitam ser trabalhadas com cuidado e pericia num longo e abrangente processo de psicoterapia, assim possibilitaremos a aplicação das técnicas comuns em terapia sexual.

Por Kyslley Sá Urtiga – Psicóloga/ Terapeuta Sexual
Edição: Adriana Lemos – Jornalista e Psicóloga
Fonte consultada: Vitiello, N – Violência Sexual contra crianças e adolescentes.