Saiba como agir no luto infantil

As crianças devem ser preparadas para as perdas ao longo da vida

A morte é algo inerente ao ciclo da vida, mas o assunto na cultura ocidental, da qual fazemos parte, é, via de regra, um tabu e são poucas as famílias que tratam do assunto de forma aberta e esclarecedora no cotidiano. E quanto acontece uma perda nas relações próximas se instala a dificuldade de falar acerca do acontecimento e o agir se torna pesado, sobretudo com as crianças.

O fato acontece devido aos adultos tenderem a acreditar que as poupando de participarem do funeral e dos rituais de despedida estarão afastando-as do sofrimento. É como se negando a morte, ela deixasse de existir.

Elas têm contato com o assunto, mesmo sem que os adultos o tragam, por meio da morte de um animal de estimação ou de desenhos animados ou ainda de historietas em livros do colégio.

O que muitos adultos não sabem é que a questão da morte começa a aparecer para a criança por volta dos três anos de idade e elas costumam perguntar sobre o assunto sem nenhuma angústia até por volta dos sete anos.

As formas de reagir à morte estão ligadas a cultura familiar e às assimilações individuais. E segundo os estudiosos da área, mesmo diante da reação específica de cada pessoa, notam-se padrões comuns que no caso do luto infantil residem em três fases principais.

A primeira fase é a do “protesto” quando a criança não acredita que a pessoa esteja morta e tenta reavê-la. Aqui é comum o pequeno chorar, ficar agitado e procurar o morto pela casa. A segunda fase é a do desespero e da agressividade, quando há certa desorganização da personalidade, mas é aqui também que a criança começa a assimilar a perda do ente querido. Já na terceira fase, a criança começa a buscar novas relações, reaparecendo a esperança. É quando a vida começa a voltar ao normal.

Além dessa visão das fases do luto infantil, existem teóricos, como Piaget, que as ligam à maturação cognitiva. Para ele, o desenvolvimento intelectual da criança se divide em quatro estágios e a reação à perda estará ligada ao esperado para cada fase.

No estágio sensório-motor (0 – 2 anos) não há ainda um conceito formado sobre morte; o pré-operacional (2 – 7 anos), a morte é reversível (a criança tem a ideia de que a pessoa voltará como acontece no desenho animado, no qual o personagem morre e logo revive); o operacional concreto (7 – 11 anos), a morte é irreversível, com explicações fisiológicas e o operacional formal (a partir dos 11 – 12 anos) a morte é irreversível, universal, pessoal, mas distante; as explicações são de ordem natural, fisiológica e teológica.

Morrer, perder, envelhecer, ficar doente são acontecimentos que fazem parte do processo da vida e, portanto, devemos ser minimamente preparado para eles. E não é negando ou evitando que a criança tenha contato com esses assuntos e situações que as preparamos para elaborá-los. Se agirmos desse modo estaremos é atrapalhando o processo de luto.

Por isso, não mentir para a criança e permitir que ela vivencie a perda e se expresse em relação aos seus sentimentos, medos e angústias é o mais adequado. Assim estaremos ajudando a manter a sua saúde psíquica, evitando, inclusive, distúrbios psicológicos na vida adulta.

 

*Por Adriana Lemos
Psicóloga e jornalista
Da equipe Cuidarte