Quando o ciúme rompe a barreira entre o normal e o patológico

 

O ciúme é um sentimento universal e corriqueiro na vida das pessoas em suas relações, mas quando ultrapassa esse limite torna-se patológico.

 

Nesses últimos dias o Brasil assistiu estarrecido pela televisão o desenrolar do assassinato do empresário herdeiro de uma grande empresa de alimentos, onde a acusada de cometer o crime é sua mulher. A motivação seria ciúmes.

Diante de tal fato vem a pergunta: até que ponto o ciúme em um relacionamento amoroso pode ser considerado normal? A princípio toda relação amorosa pressupõe certo grau de ciúmes, no qual a honestidade e o tranquilizar do companheiro são suficientes para o parceiro.

É natural o ser humano sentir medo quando as relações afetivas que considera estão ameaçadas, porque sentem e pensam que podem perder o outro e, assim, ser excluído de sua vida.

Pode-se dizer que o ciúme é um sentimento universal e corriqueiro na vida das pessoas em suas relações, mas é mais comum ligá-lo aos relacionamentos entre casais. Ele pode interferir em maior ou menor grau na relação.

O ciúme normal acompanha a vida dos enamorados e se deve ao medo de perder o objeto amado. Ele pode ser projetado e aqui predominam as fantasias de infidelidade lançadas no parceiro, como modo de se aliviar da culpa sentida.

Assim é importante salientar que no ciúme normal há uma autocrítica do ciumento, que reconhece em si algo que gostaria de mudar, há preocupação pelo seu amor e muita culpa por ser como é.

Já o ciúme patológico é definido como a percepção do indivíduo face a ameaça ou perda de valores no relacionamento para um rival real ou imaginário, como pensamento infundados de falsa fidelidade.

Ele pode ser do tipo delirante e, além das fantasias de infidelidade, existe um potencial de agressividade. O ciumento procura controlar o outro no sentido de não perdê-lo.

No ciúme patológico o indivíduo não reconhece o problema em si. O outro é que age mal, que é pretensamente infiel, enquanto ele é a vitima. O ciumento em nível psicótico, acredita que o outro lhe pertence, é sua propriedade e não tem consideração com o ‘objeto amado’.

Segundo A.M Cavalcante, autor do livro O Ciúme Patológico, o que aparece no ciúme doentio é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, isto é, ciúme do passado dos parceiros, as quais podem ocorrer na forma de pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações.

Em resumo, o objeto de amor, quando dentro da normalidade tem como finalidade a autopreservação, um amor ligado ao cuidado e proteção. Quando ameaçado torna-se posse, uma obsessão pelo o outro.

A sociedade, por sua vez, geralmente ignora as razões que levam um indivíduo a tirar a vida do outro por ciúmes. É importante destacar que o amor não mata. E toda a demanda de amor visa a completude do sujeito, uma vez que o amor fornece a ilusão de recobrir nossa falta estrutural, nossa precariedade e nosso limite.

Então apaixonar-se é reacender a esperança da completude, mas é também expor-se ao risco da perda. E ganhar e perder faz parte do jogo da vida!

 
Por Kislley Sá Urtiga e Adriana Lemos
*Psicólogas da equipe Cuidarte