Precisamos falar sobre suicídio

O assunto precisa ser falado em vez de calado.

grito

Eu fugi desse texto. Há 30 dias me sentei no mesmo lugar onde estou agora e passei uma tarde inteira tentando falar sobre um assunto seríssimo sem ferir a ética da minha profissão, sem ferir as minhas convicções e tentar humildemente honrar à memória da minha amiga Ju. Fugi, sou humana. Mas agora estou aqui para falar desse assunto.

Falar é importante para elaborarmos o luto, segundo me informou a psicóloga Adriana Lemos. É importante para ajudar a quem sofre e tem ideação suicida, assim temos a chance de ajudar; é importante para tentarmos entender o está acontecendo em nossa cidade. Agora que consegui escrever, entendi que precisamos falar sobre suicídio em vez de calarmos e engolirmos a dor. É preciso gritarmos!

Há nove dias perdi uma amiga que nunca conheci, embora o Facebook aponte 33 amigos em comum. Ontem perdi outro amigo que não pude conhecer mais do que as poucas vezes em que o vi no corredor da universidade. Nunca fui boa com números, mas em um mês perdi uma amiga e dois amigos que nunca conheci e nem poderei conhecer.

E assim como me calei e fugi de falar sobre isso, muitos antes de mim o fizeram, e muitos antes deles também o fizeram e assim o suicídio virou um tabu.

Vivemos numa sociedade aonde o roteiro da sua vida já vem pré-produzido por padrões de comportamento e conduta. A jornalista Ananda Sampaio resumiu bem quando disse “Em tempos de redes sociais, quando vivemos a industrialização da felicidade, se declarar alguém insatisfeito com a vida é quase um crime contra paz mundial.”.

Mas e quando a gente é diferente?

E quando o Raul não conseguia calçar o “sapato 36” que o pai dele insistia em comprar? E quando a Rita se deu conta de que era “a ovelha negra da família”? E quando o Roger foi chamado de “rebelde sem causa” por que aparentemente tinha tudo?

Raul apertou o pé e calçou o sapato. Rita tingiu-se de branco e o Roger fingiu que estava tudo bem. E assim, cada um deles e, cada um de nós, vamos vestindo máscaras sociais para se encaixar onde não nos cabe.

Talvez isso tenha nos tornado menos humanos. A gente gasta tanto tempo tentando manter uma pose, um status, um “eu” que não nos pertence e nos concentramos tanto nisso que nos tornamos indiferentes aos outros. Às ideias deles, aos gostos deles, às escolhas deles e, principalmente, à dor deles.

Todos nós somos frágeis! Não tenha vergonha de expor seu lado vulnerável. Não tenha medo de pedir ajuda seja para familiares, amigos ou se achar que nenhum deles pode compreender aquilo que te aflige e fere a alma procure ajuda de profissionais como psicólogos. O Centro de Valorização da Vida tem ajuda 24 horas por dia nos mais variados canais de comunicação como Skype, telefone, chat.

Ainda há tempo!

Há tempo para nos preocuparmos e sermos mais solidários com aqueles com os quais convivemos. Há tempo para cobrarmos do poder público ações preventivas mais eficientes e permanentes para que não percamos mais pessoas para o suicídio. Há tempo para nós, jornalistas, trazermos o suicídio à tona de forma responsável e cumprindo o dever social de nossa profissão promovendo discussões, dando voz a profissionais que possam nos ajudar a identificar comportamentos suicidas e principalmente como ajudar estas pessoas.

Ainda há tempo. Mas temos que começar hoje. Agora. Teresina é a capital brasileira do suicídio e simplesmente não podemos nos “dar ao luxo” de esperar o Setembro Amarelo para fazer alguma coisa. O Suicídio precisa ser combatido e fingir que ele não existe não vai fazer com que ele desapareça.

Por Letícia Lustosa – Jornalista*
Edição: Adriana Lemos – Jornalista e psicóloga
*Colaboração especial para o site da Cuidarte