Orange is the new Black e a psicologia

Série retrata a falta de assistência psicológica dentro da prisão

Série produzida e exibida pela Netflix, conta a história de Piper Chapman, é uma mulher na casa dos 30 anos que é sentenciada a 15 meses de prisão por um crime que cometeu há quase dez anos. Ela transportou dinheiro para sua namorada que era uma traficante internacional. Na cadeia conhece novas mulheres com historias de vidas únicas e especiais e que por alguma má escolha do passado fez com que fossem presas e obrigadas a passar alguns anos em reclusão.

É interessante ver no decorrer da série as relações que são formadas dentro do presidio, algumas acontecem por afinidades, interesses em comum ou simplesmente a cor da pele, que se mostra como o primeiro critério para o inicio das relações sociais entre as detentas, assim os grupos são notoriamente divididos entre mulheres brancas, negras, latinas e ‘outras’, usando o próprio termo da serie. Como as detentas precisam efetuar trabalhos dentro da prisão, essas relações acabam se expandindo, não ficando restritas somente a cor da pela, como acontece inicialmente. O que inicialmente é critério para a separação das mulheres em grupos acaba não tendo mais importância com o passar de cada episodio, ficando claro que o interesse em comum e identificação pessoal é o que de fato levam as prisioneiras a manterem uma relação de amizade, como é o que acontece por exemplo com uma freira e la cumpri pena que acaba desenvolvendo uma amizade com uma mulher transexual.

Outros personagens chamam muito a atenção, não somente pela personalidade, como também pelo modo de ver e tratar as detentas, como os funcionários e guardar do presidio. Com uma visão pessimista e fatalista, que algumas das vezes pode chegar até a ser preconceituosa, tais funcionários, em sua grande maioria, enxergam aquelas mulheres como criminosas perigosas e detentas apenas. Poucos são aqueles que estão realmente engajados em promover uma boa ressocialização das mesmas e desprezam completamente suas historias de vida e o que levaram elas a cometerem tais crimes.
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Dessa forma fica claro que na função de preparar essas mulheres para uma nova vida do lado de fora da cadeia, a prisão peca em vários aspectos. Primeiramente por não ter um acompanhamento psicológico adequado com as mulheres ali reclusas e com os funcionários, pois ambos precisam desmistificar alguns preconceitos, além de dar significado aos sofrimentos e ansiedades que tal ambiente de reclusão gera. As atividades que são desenvolvidas com as detentas pouco tem função profissionalizante e social, não preparando as mesmas para a vida que elas vão enfrentar fora da cadeia.

Assim Orange is the new Black se revelou uma série engraçada, dramática e reflexiva ao mesmo tempo, mostra a realidade de uma penitenciaria feminina de um modo leve mas verdadeiro, onde o telespectador tem a possibilidade de ampliar sua visão, onde para de ver pessoas criminosas e começam a refletir sobre a vida daquela daquela pessoa, sobre o que a levou a fazer tal ato, sobre o que a experiência da cadeia pode significar e o que ela pode aprender com isso e mais, pensar em uma penitenciaria como uma oportunidade para essas mulheres de recomeçar, aprender algo novo, e não somente ficar no ócio e esperar passar o tempo para ser livre novamente e acabar cometendo algum crime novamente.

Po Antonino José de Melo – Psicólogo
CRP 21/02264