Dedicação ao filho único e a síndrome do ninho vazio

Essa semana, por conta do dia das mães, fui procurada por uma repórter para falar sobre os sentimentos e emoções que invadem a mulher que é mãe de filho único. A pauta tinha como gancho a síndrome do ninho vazio. Ela queria saber se as mulheres nessa condição são mais propensas a desenvolver a síndrome ou não. A literatura sobre o assunto traz que as mulheres de um modo geral são mais vulneráveis que os homens, mas isso acontece com eles também. A síndrome se caracteriza pelo sentimento de solidão, irritação e depressão quando os filhos deixam a casa. Confira a entrevista na íntegra e saiba como evitar o problema!

Quais os conflitos mais comuns na relação entre pais e filho único?

Não dá para precisar isso, então varia de família para a família. Mas um dos nós está no fato de que quando só se tem um filho é comum jogar muitas expectativas sobre ele e aí pode haver excessos, como superproteção, cobranças em relação às expectativas lançadas sobre o filho.

Como eles podem ser contornados? 

Procurando não depositar no filho essas expectativas, conversar, ser maleável e dar uma educação maleável também; não viver apenas para o filho e em função dele, mas cuidar de si, ter vida própria. Isso evita adoecimento e proporciona a possibilidade de uma vida saudável em família.

Qual a fase mais difícil para o filho? E para os pais? 

Isso também depende de vários fatores, de situação para situação. Todas as fases do desenvolvimento humano têm suas dificuldades e encantos.

A Síndrome do Ninho Vazio é mais comum em mães que tiveram apenas um filho? 

Não está relacionada diretamente ao fato de existir só um filho. A síndrome se caracteriza pelo sentimento de solidão, irritação e depressão quando os filhos deixam a casa. A literatura sobre o assunto diz que é mais comum em mulheres que nos homens, mas pode acontecer com eles também, ou seja, pai e mãe.

O que o filho, na fase adulta, pode fazer para que os pais não se sintam abandonados?

Aqui prefiro falar o que os pais podem fazer para não se sentirem assim. Como falei, é cuidar de si também e não ter sua vida limitada ao filho. É natural do fluxo da vida ter o filho ou filhos, eles cresceram, ficarem adultos e saírem de casa ou para casar ou para estudarem ou trabalhar fora. Isso se chama amadurecer. Os pais têm de ver isso é como vitoria, e não como abandono. O filho adulto e criado rumo à independência tem na sua história ‘o dedo dos pais’, então eles contribuíram para sua formação e amadurecimento, no preparo para a vida.

O que é recomendado aos pais para que não se tornem superprotetores  durante a adolescência do filho? 

 Já respondi anteriormente, no que se refere a maleabilidade da educação e do cuidado consigo mesmo. Se a mãe ou o pai sentirem depressão e tristeza quando os filhos saem de casa, a primeira coisa a fazer é reconhecer a situação e em seguida aceitar. A recomendação é que a pessoa procure fazer coisas que deem prazer, como dançar, viajar, fazer um curso para usar tecnologia, participar de grupos, praticar esporte. Enfim, iniciar uma nova fase da vida, pois nossa vida é processo e tem diversas fases. É preciso entender que a fase da vida mudou e se a pessoa não buscar outras fontes de prazer ela pode adoecer. O importante é tirar o foco da ausência do filho. Caso não consiga dar conta sozinha disso, é recomendado buscar apoio psicológico e /ou até ajuda médica, caso haja necessidade do uso de medicação.

 

Por Adriana Lemos – Jornalista e psicóloga
*Da equipe Cuidarte
*Foto: Wagner Santos