Os dependentes de telas: o “vício sem substância” que começa aos 14 anos

O Brasil tem uma das maiores populações online do mundo: são 126,4 milhões de pessoas conectadas à Internet segundo o IBGE, sendo que quase 25 milhões de internautas são crianças e adolescentes.

Eles não dormem e comem fora de hora. Deixam de tomar banho. Um em cada cinco espanhóis entre 10 e 25 anos sofre de transtornos comportamentais devido à tecnologia. Por trás do vício se escondem, na maioria dos casos, carências pessoais ou problemas de autoestima. Eles chamam isto de vício sem substância. Adrián, de 14 anos, de Cádiz (sul da Espanha), o pegou no verão. Quase sem perceber, passava os dias trancado em seu quarto, quase não comia, e deixou de tomar banho. Sem se comunicar com a família, sua única atividade era jogar no console do PlayStation. “Meus horários mudaram, passava a noite toda acordado e à tarde descansava algumas horas. Quando tinha fome, ia à cozinha buscar mais Red Bull – bebida energética–, fazia alguns sanduíches e pegava um saco de batatas fritas”, conta o jovem. No dia em que seus pais começaram a se preocupar, tiraram-lhe o console, o esconderam no carro e o menino se agarrou a ele de forma doentia, diz Isabel, a mãe. Tiveram de ir a uma delegacia para por fim ao conflito. “Adrián não era mais Adrián, sempre foi carinhoso e agora se comportava de forma violenta.”

Um em cada cinco espanhóis entre 10 e 25 anos sofrem de transtornos de comportamento devido à tecnologia, de acordo com uma pesquisa feita com 4.000 pessoas que será incluída no novo Plano Nacional sobre Drogas do Ministério da Saúde da Espanha. O vício em telas não é considerado uma doença e ficou fora do DSM5, a classificação dos transtornos mentais elaborada pela Associação Norte-americana de Psiquiatria, que atualizou a lista em 2013. A ludopatia (vício de jogar) é o único comportamento viciante reconhecido nesse documento, que associa a dependência principalmente a substâncias: álcool, fumo, estimulantes, maconha e opiáceos.

“Não existe um protocolo para agir nesses casos, o diagnóstico de novas doenças sempre vai a reboque das mudanças sociais. É preciso saber diferenciar entre consumo excessivo e vício, que é quando a pessoa perde o controle e sofre porque, embora queira parar, não consegue”, explica Celso Arango, vice-presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria. Em seu hospital, o Gregorio Marañón, em Madri, o vício em videogames já é o segundo mais tratado depois da maconha, no caso dos adolescentes.

Perda de controle: assim Adrián descreve o que viveu durante dois meses. A família decidiu procurar ajuda quando, no início do ano letivo, foi para o terceiro ano do ensino médio, suas notas despencaram e ele foi reprovado em seis matérias. “Não raciocinava, nos empurrava e esmurrava a parede”, descreve a mãe. Com sessões de terapia familiar em uma entidade dedicada à prevenção e ao tratamento de dependência de drogas (a Asociación Proyecto Hombre) –que em 2013 lançou um programa para jovens viciados em tecnologias de comunicação–, conseguiram deter o problema. Adrián vendeu o console e com esse dinheiro comprou uma mountain bike, um hobby que havia abandonado. A chave para sua recuperação foram as chamadas resoluções, punições ou recompensas por seu comportamento.

“Ao começar o tratamento, o vazio emocional dos jovens é muito grande. Sua vida foi preenchida pelo jogo, pelo reconhecimento de outras pessoas por suas façanhas virtuais. Ao contrário do que acontece com eles na vida real, ali se sentem competentes e os fracassos que possam ter não são penalizados. O que pode ser oferecido a eles que os preencha de forma semelhante?”, reflete Pedro Pedrero, psicólogo desta associação em que Adrián recebeu tratamento, que já atendeu 200 jovens, a maioria meninos de 16 anos. As meninas são 20% do total. “O vício não tem a ver com o número de horas, mas com as consequências”, acrescenta.

Na Espanha, cerca de 90% dos jovens entre 14 e 16 anos dispõe de dois a cinco dispositivos digitais pessoais e 86% reconhecem o uso “muito habitual” do telefone celular, segundo o estudo As Tecnologias de Informação e Comunicação e sua Influência na Socialização de Adolescentes, publicado em janeiro pela Fundação de Ajuda contra o Vício em Drogas.

Por trás do vício se escondem, na maioria dos casos, carências pessoais ou problemas de autoestima. “Se eles se refugiam na tecnologia, é por alguma coisa. É o que chamamos de fenômeno iceberg: o vício é o que vemos, mas por baixo pode haver conflitos familiares, bullying, luto pela morte de um ente querido ou mudança de país”, destaca José Moreno, diretor do Centro de Vícios Tecnológicos da Comunidade de Madri, um serviço público pioneiro na Espanha destinado unicamente a adolescentes inaugurado há um ano e que desde abril de 2018 já ofereceu tratamento psicológico a 124 jovens de 12 a 16 anos. 38% dos casos são provenientes dos departamentos de saúde mental dos hospitais de Madri. Nestes primeiros onze meses, 1.583 pessoas participaram de seus programas de prevenção.

Parte do problema nasce na família. “Com três anos lhes dão o tablet para comer ou para acalmá-los de uma birra. Isso significa ensinar a criança a regular suas emoções através de um aparelho”, diz Moreno. A comunicação é fundamental. “Nós trabalhamos o vínculo. É necessário que os pais acompanhem a criança na terapia, a responsabilidade não recai sobre um único membro, todos devem estar dispostos a mudar”, diz Moreno. Os sinais de alerta são geralmente três: refeições fora de hora, maus hábitos de sono e abandono de responsabilidades. Reconhecer que o adolescente tem um problema é um processo complexo. “Eles têm medo e afirmar que o filho é um viciado é um estigma para as famílias.”

O que as telas provocam no cérebro? “Ao contrário do vício em substâncias, este não deixa uma marca psicológica para toda a vida, pode ser superado com mais facilidade”, afirma Domingo Malmierca, coautor de três guias publicados pela Comunidade de Madri para ensinar a conviver com as telas e membro da Fundação Aprender a Olhar, que trabalha contra os abusos no ambiente digital. Os jovens ficam excitados porque têm um desafio pela frente: ganhar uma batalha ou surpreender em uma conversa no WhatsApp. “Cada acerto representa uma descarga de dopamina, é uma satisfação imediata”, explica o especialista.

O cérebro dos adolescentes é “imaturo” e muito vulnerável a estímulos que podem se tornar viciantes, diz Hilario Blasco, psiquiatra do hospital Puerta de Hierro, em Madri. “Os adolescentes têm menos freios, o lobo frontal –a parte do cérebro responsável pela regulação dos impulsos– não terminou de se formar. Nem todos ficam viciados, os que têm boas habilidades sociais ou praticam mais esportes são mais resistentes”, afirma.

A família deve dar exemplo. “As crianças fazem o que veem, não o que os pais mandam, por isso uma solução é escolher áreas livres de tecnologia dentro de casa e horários. Guardar todos os aparelhos em um armário à noite e evitar que sejam colocados na nossa cama”, adverte Stephen Balkam, fundador do Family Online Safety Institute, uma organização nos Estados Unidos que pesquisa práticas responsáveis no mundo digital. “Ainda não conhecemos as consequências no longo prazo, não se deve demonizar a tecnologia, mas aplicar o bom senso”.

O isolamento é outro sinal. Daniel, de 13 anos, foi à escola três vezes desde o início do ano letivo. Não quer sair de casa e nem encontrar os amigos. Seu lugar é o sofá, na frente do qual tem uma televisão conectada ao seu Nintendo. “Não tenho nada a esconder, meu filho tem um vício de alto risco em telas”, conta o pai, Ángel Gutiérrez, na saída da sessão de terapia semanal de que ele, a esposa e filho participam em Madri. Teme que a Procuradoria de Menores intervenha e lhes retire a custódia por causa das seguidas faltas à escola.

O menino, de cabelos compridos e soltos e um moletom preto, pede ao pai para não dar muitos detalhes. “Ele não tem habilidades sociais e agora estamos examinando sua autoestima, parece que é muito baixa”, conta o pai. Agora eles começaram a administrar as horas de jogo e Daniel está conhecendo garotos de sua idade que estão na mesma situação na terapia de grupo. “A tecnologia é a pior coisa que nos aconteceu, pior do que se descesse um extraterrestre”, diz a mãe, que prefere não dar o nome.

“Muitas das famílias que vêm à terapia são muito disfuncionais; não costumam expressar suas emoções nem sabem dizer não com respeito. Os julgamentos e gritos são uma forma de violência e a educação é a base. Ensinamos-lhes outra maneira de se relacionar”, diz o psicólogo José Moreno. A família é o modelo de referência. O distúrbio não nasce sozinho.

BRASIL: 8 EM CADA 10 CRIANÇAS ESTÃO ONLINE
O Brasil tem uma das maiores populações online do mundo: são 126,4 milhões de pessoas conectadas à Internet segundo o IBGE, sendo que quase 25 milhões de internautas são crianças e adolescentes. Embora faltem estudos que deem uma dimensão da extensão dos problemas envolvendo o uso excessivo de tecnologia no país, sobram indicadores de que este é um tema que preocupa cada vez mais famílias e educadores.

Segundo duas pesquisas de 2018 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), oito em cada dez brasileiros entre 9 e 17 anos (85%) são usuários ativos da Internet, sendo que o telefone celular é o meio para acessar a rede preferido por 93% –um avanço estrondoso em comparação com os 21% de 2012, E 40% dos professores de escolas de áreas urbanas já ajudaram algum aluno a enfrentar situações “desconfortáveis” relacionadas ao uso da Internet, tais como bullying, discriminação, assédio e disseminação de imagens sem consentimento. A maioria das crianças e adolescente (79%) usam a Internet para trocar mensagens; 77% para assistir a vídeos; 75% para ouvir músicas; e 73% para usar redes sociais.

Já um levantamento da consultoria Deloitte aponta embora 63% dos pais de jovens entre 18 e 24 acreditem que seus filhos usam muito smartphones, e 50% dos pais são autocríticos: reconhecem que também usam muito seus telefones celulares.

Em São Paulo, um programa ligado à Universidade de São Paulo (USP) e ao Hospital das Clínicas atende pacientes que sofrem com variados tipos de compulsão, incluindo dependência de tecnologia e vício em jogos. Há tratamento gratuito para quem tem mais de 18 anos e um teste online: Como sei que sou dependente de internet?

Fonte: ElPais

Experimento revela bom exercício para neutralizar emoções negativas

Estudo mostra que desejar o bem para alguém pode fazer você se sentir melhor, mesmo entre os narcisistas.

O que você faz quando está num dia ruim? Algumas pessoas exageram no chocolate, enquanto outras procuram alívio no álcool. Mas cientistas que estudam a felicidade afirmam que existe uma forma bem mais saudável de lidar com emoções negativas: desejar o bem para alguém.

Pesquisadores da Universidade do Estado de Iowa, nos EUA, garantem que a estratégia ajuda a reduzir o estresse e aumenta a sensação de bem-estar em poucos minutos, num artigo publicado no periódico Journal of Happiness Studies.

Eles testaram a hipótese com diferentes grupos de estudantes universitários, que tinham que dar uma uma volta na rua, olhar para alguém e, por 12 minutos, praticar uma das seguintes atitudes:

1) desejar que essa pessoa aleatória fosse muito feliz, tentando realmente sentir aquilo;

2) pensar quais os desejos, sentimentos ou esperanças teria em comum com essa pessoa;

3) pensar como talvez estivesse numa situação melhor que aquela pessoa.

A primeira recomendação, segundo os pesquisadores, é um exercício de amor e bondade. O segundo, de interconexão, e o terceiro, de comparação social. Também houve um quarto grupo, que atuou como controle. Eles tinham apenas que olhar para alguém e reparar nas roupas, cabelo, acessórios ou maquiagem da pessoa.

Todo mundo foi entrevistado antes e depois da tarefa, para que os pesquisadores pudessem avaliar os níveis de ansiedade, depressão, felicidade e empatia.

Os pesquisadores compararam cada grupo e descobriram que o primeiro, que fez um esforço para desejar o bem para alguém, relatou emoções muito mais positivas depois da tarefa. Eles se sentiram mais felizes, conectados e menos ansiosos.

O segundo grupo, que explorou a conexão com o desconhecido, se saiu bem nos índices de empatia. O terceiro grupo, que se comparou com o estranho, não teve nenhum benefício, da mesma forma que o grupo controle, que só foi orientado a reparar na aparência do outro.

A equipe acreditava que a comparação social descendente, ou seja, perceber que outra pessoa pode estar pior que você, poderia trazer alguma vantagem por causa de resultados anteriores. Mas eles descobriram que é basicamente o contrário: a mentalidade competitiva gera estresse e depressão.

Os pesquisadores também avaliaram como diferentes tipos de personalidade reagem a cada técnica. Eles acreditavam, por exemplo, que narcisistas teriam mais dificuldade em desejar o bem para os outros, por isso teriam um resultado pior no teste. Mas o curioso é que não houve diferenciação: todo mundo se sentiu melhor após a tarefa, até os menos empáticos por natureza.

Se você leu este texto até aqui, já deve ter passado pela sua cabeça qual o objetivo por trás da pesquisa. Se pensou no efeito das redes sociais no emocional das pessoas, acertou. Essas plataformas estimulam a comparação num nível que pode estar deixando muita gente doente. Isso acontece sem que as pessoas percebam.

Se você se flagrar com uma ponta de inveja na hora de ver a foto de algum conhecido na rede, experimente a dica dos pesquisadores: interrompa seu pensamento e faça um esforço para o desejar o bem para aquela pessoa. Pode ser que você se sinta melhor.

Fonte: UOL
Texto: Jairo Bouer

Como as redes sociais afetam a sua visão de si mesmo

Você já se perguntou como todas aquelas imagens dos corpos de outras pessoas podem estar afetando a maneira como você vê sua própria imagem?

Se você dá uma olhada no Instagram ou no Facebook sempre que tem um tempinho, você está longe de ser o único. Mas você já se perguntou como todas aquelas imagens dos corpos de outras pessoas – sejam elas um clique das férias de um amigo ou a selfie de academia de uma celebridade – podem estar afetando a maneira como você vê sua própria imagem? Muito tem sido estudado ao longo dos anos sobre como os principais meios de comunicação apresentam padrões de beleza irreais na forma de celebridades retocadas com Photoshop ou modelos de moda extremamente magras. Agora que influenciadores enchem nossas redes sociais, é fácil imaginar que também essa mídia seja nociva quando se trata de imagem corporal. Mas a realidade é mais sutil, e pode haver maneiras de você organizar seu feed do Instagram de modo a se sentir mais feliz em sua própria pele – ou, pelo menos, de modo a impedir que você se sinta pior.

Impacto da imagem
As pesquisas sobre redes sociais e imagem corporal ainda estão em seus estágios iniciais e a maioria dos estudos é correlacional. Isso significa que não podemos provar se, por exemplo, o Facebook faz com que alguém tenha sentimentos negativos sobre sua aparência ou se as pessoas que estão preocupadas com a aparência têm mais probabilidade de usar o Facebook.

Dito isso, o uso das redes sociais parece estar relacionado com preocupações com a imagem do corpo. Uma revisão sistemática de 20 artigos publicados em 2016 identificou que atividades baseadas em fotos, como rolar a tela do Instagram ou postar fotos de si mesmo, são particularmente problemáticas quando acompanhadas de pensamentos negativos sobre o próprio corpo.

Mas há muitas maneiras diferentes de usar as redes sociais – você está apenas consumindo o que os outros publicam, ou você está editando e fazendo o upload de selfies? Você está seguindo amigos próximos e familiares, ou uma lista imensa de celebridades e influenciadores? As pesquisas indicam que as pessoas com quem nos comparamos são a chave para a questão.

“As pessoas estão comparando suas aparências às das pessoas nas imagens do Instagram, ou em qualquer plataforma em que elas estejam, e muitas vezes acabam se julgando inferiores”, diz Jasmine Fardouly, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Macquarie em Sydney, Austrália.

Em uma pesquisa com 227 universitárias, as mulheres relataram que tendem a comparar negativamente a própria aparência com as de amigas distantes e com celebridades, mas não com membros da família, enquanto navegam no Facebook. O grupo de comparação que tinha a ligação mais forte com as preocupações com a imagem corporal era o de amigas distantes ou conhecidas.

Fardouly relaciona isso ao fato de as pessoas apresentarem uma versão unilateral de suas vidas online. Se você conhece bem uma pessoa, saberá que ela está mostrando apenas seus melhores lados, mas se ela for apenas uma “conhecida”, você não terá nenhuma outra informação para avaliar aquelas imagens.

Influência negativa
Quando se trata do círculo mais amplo de influenciadores e perfis que você segue, nem todos os tipos de conteúdo são iguais. Pesquisas mostram que imagens de “fitspiration” (jogo de palavras em inglês que significa “inspiração fitness”) em especial – que normalmente apresentam pessoas bonitas fazendo exercícios, ou pelo menos fingindo fazer – podem fazer com que você tenha um julgamento mais rígido de si mesmo.

Amy Slater, professora associada da Universidade de West England, no Reino Unido, publicou um estudo em 2017 no qual 160 universitárias viam imagens de #fitspo (versão reduzida de #fitspiration), citações de autocompaixão ou uma mistura de ambas, todas provenientes de perfis reais do Instagram.

Aquelas que viram apenas o #fitspo marcaram menos pontos no quesito autocompaixão, mas aquelas que viram citações de autocompaixão (como “Você é perfeita do jeito que é”) foram mais gentis com elas mesmas, e se sentiram melhor com relação aos seus corpos. Para aquelas que viram tanto as imagens de #fitspo quanto as de citações de autocompaixão, os benefícios destas últimas pareceram superar os pontos negativos das imagens de #fitspo.

Outro estudo, publicado no início deste ano, envolveu expor 195 mulheres jovens a conteúdo positivo sobre o corpo, postado por contas populares na rede social como a @bodyposipanda, além de fotos mostrando mulheres magras em biquínis ou equipamentos de ginástica, e imagens neutras da natureza.

Os pesquisadores descobriram que expor mulheres a conteúdos #bodypositive – “corpo positivo”, em tradução literal, é um movimento das redes sociais que busca promover o amor próprio e a pluralidade da beleza – do Instagram pareceu aumentar a satisfação que sentem com seus próprios corpos. “Essas duas coisas juntas (mensagens de autocompaixão e #bodypositive) começam a demonstrar que pode haver algum conteúdo que seja realmente útil para a imagem corporal”, diz Slater.

Mas também pode haver um aspecto negativo em relação às imagens positivas sobre o corpo: elas ainda se concentram no corpo. O mesmo estudo constatou que as mulheres que viram fotos positivas sobre o corpo ainda se objetificavam.

Isso pôde ser observado quando foi solicitado que as participantes escrevessem 10 frases sobre elas mesmas depois de olharem as imagens. Quanto mais focadas na aparência as frases eram, em vez de habilidades ou personalidade, mais alto a participante pontuava no quesito auto-objetificação.

Isso significa que quando alguém escrevia “Eu sou bonita”, o comentário acabava sendo inserido “no mesmo bolo” de coisas negativas que as pessoas diziam sobre seus corpos. Entretanto, essas pessoas podem ter uma visão mais ampla sobre de onde vem sua beleza, incluindo atributos interiores e físicos, diz Slater.

De qualquer forma, essa fixação com aparência é uma crítica a esse movimento de visão positiva sobre o corpo que parece válida. “É sobre amar seu corpo, mas continua sendo um grande foco na aparência”, afirma Fardouly.

Paixão por selfies
Quando se trata de postar nossas próprias imagens nas redes sociais, as selfies parecem ser o caminho. Durante um estudo publicado no ano passado, Jennifer Mills, professora associada da Universidade York, no Canadá, pediu a universitárias que fizessem uma selfie em um iPad e a publicassem no Facebook ou no Instagram. Um grupo só podia fazer uma foto e publicá-la sem edição, mas o outro grupo tinha a chance de fazer quantas fotos quisesse e retocar sua selfie usando um aplicativo.

Mills e seus colegas observaram que todas as participantes se sentiram menos atraentes e menos confiantes depois de postarem as selfies do que quando entraram no experimento – inclusive aquelas que tinham permissão para editar suas fotos o quanto quisessem.

“Mesmo elas podendo fazer com que o resultado final pareça ‘melhor’, elas ainda focam em aspectos de que não gostam em sua aparência”, afirma a professora. Algumas participantes quiseram saber se alguém tinha curtido a foto antes de decidirem como se sentiam sobre a postagem, apesar de a questão das interações não fazer parte do estudo.

“Há essa sensação de ansiedade (ao postar uma foto) e, em seguida, você recebe a aprovação de outras pessoas de que você está bonita”, diz Mills. “Mas esse sentimento não dura muito e você faz outra selfie.” Em trabalhos anteriores publicados em 2017, pesquisadores descobriram que passar muito tempo retocando selfies pode ser um sinal de que alguém está sofrendo com alguma insatisfação com o próprio corpo.

Ainda assim, algumas grandes lacunas permanecem na pesquisa sobre redes sociais e imagem corporal. A maior parte do trabalho até agora tem se concentrado em mulheres jovens, já que tradicionalmente elas têm sido o grupo mais afetado por preocupações com a imagem corporal. Mas pesquisas incluindo homens estão começando a mostrar que eles não estão imunes.

Por exemplo, um estudo descobriu que os homens que relataram olhar o conteúdo do #fitspo masculino com mais frequência disseram que comparavam a sua própria aparência à dos outros com mais frequência, e se preocupavam mais em ter músculos.

Pesquisas de longo prazo também são um próximo passo importante, porque os experimentos de laboratório só conseguem fornecer uma imagem superficial de possíveis efeitos. “Não sabemos ao certo se, com o passar do tempo, as redes sociais terão um efeito cumulativo sobre as pessoas ou não”, diz Fardouly.

Então, por enquanto, como você deveria organizar seus próprios feeds nas redes sociais se não quiser acabar se sentindo mal com seu corpo? Mills tem uma dica que deve funcionar para todos: guarde seu telefone. “Faça uma pausa e participe de outras atividades que não têm nada a ver com a aparência ou façam você se comparar com outras pessoas”, diz ela.

Outra coisa boa a se fazer seria analisar criticamente quem você está seguindo. Se você se deparar com um fluxo interminável de fotos focadas na aparência da próxima vez que navegar pelo seus feeds nas redes sociais, adicione um pouco de natureza ou viagem nessa mistura.

Afinal de contas, abrir mão das redes sociais provavelmente é um passo grande demais para a maioria das pessoas – especialmente enquanto os efeitos do uso em longo prazo ainda não estão claros. Mas encontrar paisagens inspiradoras, comida deliciosa e cachorros fofos para preencher seu feed do Instagram pode ajudar você a lembrar que há mais coisas na vida do que sua aparência.

Quatro antigos truques para vencer a insônia

A seguir, contamos quatro antigos truques e conselhos para ter um sono restaurador.

Todos nós gostamos de dormir bem, e nossos antepassados também gostavam. Podemos aprender muito com a forma como eles lidavam com a falta de sono e a insônia. A seguir, contamos quatro antigos truques e conselhos para ter um sono restaurador.

1. Crie uma rotina
Os primeiros gurus do sono acreditavam que a consistência era chave para uma vida longa e virtuosa. Somos obcecados pelo sono – ou a falta dele. No nosso mundo de longas jornadas de trabalho, altos níveis de estresse e muito tempo diante de telas, a busca pelas tão recomendadas oito horas diárias de sono se tornou uma espécie de Santo Graal.

Mas o que faziam nossos antepassados? Como combatiam a falta de sono? A primeira coisa na lista de prioridades era estabelecer um período determinado dedicado a dormir e ater-se a ele todas as noites. Acreditavam que ter um número fixo de horas de sono por noite era chave para manter corpo, mente e alma em boa forma. John Wesley, líder do movimento metodista, ecoava seus antepassados do século XVII quando aconselhava seus seguidores a deixar as pendências para o dia seguinte e manter seu horário.

A importância do sono regular sobre a psiqué moderna é tanta que, junto com ar puro, dieta, excreção, exercício e paixões da mente, era considerado um dos seis ingredientes essenciais para equilibrar os quatro humores do corpo: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. Acreditava-se que isso ajudava a manter a saúde física e mental no longo prazo.

Ter um horário de sono regular também era considerado um importante indício da reputação e da saúde espiritual de uma pessoa. Elizabeth Livingston, de 15 anos, dama da rainha Catarina de Bragança, mulher de Carlos II, se autodenominou “preguiçosa de Salomão” quando confessou que “ficava na cama até meio-dia”. Elizabeth estava claramente com medo de que esse costume afetasse negativamente a saúde do seu corpo e sua alma.

2. Coma cedo
Para os nossos antepassados, o segredo de uma boa noite de sono estava no conteúdo de suas entranhas. Conhecemos as características da cafeína desde que a bebemos. Já no século XVII, o farmacêutico francês Philippe Sylvestre Dufour dizia que se deve evitar o chá e o café antes de se deitar, destacando que isso só era útil para quem estuda à noite. Mas nossos antepassados achavam que a comida e a bebida poderiam curar a privação de sono, assim como causá-la.

Eles tomavam sopa de alface por suas qualidades soporíficas e, de vez em quando, tomavam uma bebida quente e leitosa conhecida como “posset”, que era ingerida na hora de deitar-se, que fortalecia o estômago com uma “manta” de lácteos. Os primeiros médicos modernos estabeleceram vínculos estreitos entre um sono saudável e uma boa digestão.

No seu livro de 1534, Castel of Health (O Castelo da Saúde, em tradução livre), o advogado e intelectual Sir Thomas Elyot escreveu: “a digestão é melhor durante o sono, o corpo relaxa, a mente fica mais tranquila e clara e o humor se acalma”.

Também se acreditava que adotar uma postura correta para dormir acelerava a digestão. Aconselhava-se dormir com a cabeça erguida para evitar a regurgitação. Era encorajado, ainda, alternar posições durante a noite – descansar primeiro sobre o lado direito permitiria, achavam, que a comida descesse facilmente até o estômago. Virar para o lado esquerdo, mais frio, depois de algumas horas, liberaria vapores do estômago que haviam se acumulado do lado direito e distribuiria o calor de maneira mais uniforme por todo o corpo.

3. Durma na sua própria cama
Nunca subestime o poder de um ambiente de descanso seguro, relaxante e, sobretudo, familiar. Todos nós apreciamos a segurança, a familiaridade e o conforto que dormir na nossa própria cama nos traz. E não ficamos tranquilos quando alguém viola esse espaço. Desde o passado, as camas eram apreciadas porque tinham importantes funções sociais, ritualísticas e emocionais, além de serem lugares de conforto e segurança.

Nossos antepassados às vezes dormiam em camas e com roupas de cama que haviam sido herdadas de parentes, que haviam ganhado de presente de casamento ou na ocasião do nascimento de um filho. As mulheres faziam ou decoravam lençóis, colchas e edredons para seus entes queridos e, ao fazê-lo, davam à roupa de cama um grande valor sentimental.

Não é de se estranhar que a escritora britânica Alice Thornton tenha lutado com unhas e dentes contra os cobradores de impostos da corte na década de 1660 para manter posse da cama vermelha que sua mãe havia deixado para ela. Esta era a cama onde Alice e seus parentes haviam se recuperado de doenças na infância e na qual Alice havia chorado a morte do seu marido, William.

Essa obsessão do século XVII com a familiaridade parece ser confirmada pela ciência. Os pesquisadores do sono sempre souberam do “efeito da primeira noite”: a ideia de que as pessoas dormem mal em ambientes desconhecidos. Os cientistas acreditam que isso se deve ao fato de que parte do cérebro fica em “vigilância noturna”, dormindo levemente, caso o novo ambiente seja inseguro.

4. Baixe a temperatura
Uma das melhores maneiras de dormir à noite é baixar a temperatura. Os especialistas em sono acreditam que há uma temperatura ambiente ideal para dormir bem: 18,5°C. É possível que nossos antepassados não tenha tido acesso a dados tão precisos, mas isso não os impedia de serem muito conscientes sobre como o calor excessivo afeta negativamente o sono. Então, o que faziam para manter seus quartos frescos? Abriam portas e janelas para garantir um fluxo constante de ar e soltavam aromas de rosa e orégano. Também gostavam de lençóis de linho pela sensação refrescante que dão. O linho proporcionava o benefício adicional de proteger as pessoas de pequenos, mas potentes inimigos do sono: mosquitos e pulgas.

Eles, segundo o escritor irlandês do século XVIII Oliver Goldsmith, têm uma capacidade incomparável de atrapalhar o sono. Se os lençóis falhavam, então os donos das casas poderiam tomar medidas para limpar suas camas e fumigar os colchões. Hannah Glasse, autora de um livro sobre como lidar com o lar, aconselhava as pessoas que viviam em áreas pantanosas a colar pedaços de esterco à cama para manter os insetos longe.

Fonte: Kelly Oakes/BBC

Cuidadores também precisam zelar por um sono de qualidade

Há técnicas que podem ajudar a criar um ambiente propício ao descanso

Os pesquisadores já provaram que dormir tem um papel crucial para a saúde do ser humano. Quem dorme mal, ou seja, horas a menos do que deveria ou tem um sono de má qualidade – às vezes, as duas coisas – apresenta mais riscos de doença cardíaca, diabetes, pressão alta e derrame. Como dormir mantém o equilíbrio dos hormônios relacionados ao apetite, quem não prega o olho acaba sentindo mais fome, o que pode levar à obesidade. Não para por aí, porque o sono é fundamental para o bom funcionamento do cérebro. Este blog já tratou do tema sob a perspectiva dos idosos, mas como resolver o problema dos cuidadores, sempre sobrecarregados?

Há algumas técnicas que podem ajudar a criar um ambiente propício ao descanso. A primeira providência é limitar ao máximo a entrada de luz no quarto: feche as cortinas, apague todas as luzes e, se possível, use uma máscara. O barulho impede que o cérebro desligue, portanto nada de TV, nem ficar conferindo mensagens ou postagens em redes sociais, que também afetam o escurinho necessário para relaxar. A temperatura ideal seria algo em torno de 20 graus. Tudo isso vai ajudar a “limpar” o pensamento da lista de tarefas do dia seguinte. O quase permanente estado de alerta provocado pela preocupação com o idoso pode ser suavizado com o uso de babás eletrônicas: o equipamento que monitora bebês funciona para qualquer faixa etária.

çúcar e cafeína são inimigos do sono, por isso fique longe deles, mas há alimentos ricos em melatonina que podem ajudar, como grãos integrais (presentes numa fatia de pão, por exemplo), aveia, nozes, uva, banana, laticínios ou chá de camomila. O desgaste físico e mental de quem cuida de um idoso é grande, mas lembre-se de se exercitar, nem que seja usando as escadas em vez do elevador, ou circulando pela casa quando está ao telefone.

O site DailyCaring sugere uma técnica utilizada pelas Forças Armadas norte-americanas. O método é ensinado aos militares para que consigam dormir em condições adversas e se compõe de seis etapas:

1) Depois de colocar o telefone no modo silencioso e apenas a luz da cabeceira acesa, sente-se na beira da cama.

2) Relaxe os músculos faciais. Primeiro retese o rosto, aperte os olhos, estique a pele. Em seguida, deixe a musculatura facial afrouxar normalmente.

3) Com os braços soltos ao longo do corpo, sinta a gravidade puxar seus ombros para o chão. Depois balance os braços, um de cada vez.

4) Enquanto isso, inspire e expire, acompanhando o som da sua respiração. Em cada movimento, relaxe o peito e também deixe a gravidade fazer suas coxas e pernas pesarem.

5) Quando estiver mais solto/a e relaxado/a, tente limpar a mente por dez segundos. Foque em como seu corpo está amolecido, sem se fixar em nenhum pensamento.

6) Por último, visualize um desses cenários: você pode estar deitado/a numa canoa, num lago bem calmo, debaixo de um céu azul; ou numa rede que balança suavemente num quarto escuro. Se tiver dificuldades com a visualização, repita o mantra: “não pense, não pense, não pense” por dez segundos.

Todo o processo leva cerca de dois minutos. Depois de cumprir as etapas, deite-se e apague a luz e, se tudo der certo, você estará dormindo em poucos minutos.

Fonte: Bem-Estar

Sono perdido não é plenamente recuperado dormindo mais no fim de semana, diz estudo

Pesquisadores afirmam que descanso extra não compensa a privação de sono na semana e alertam que o ideal é ter um horário regular para deitar e levantar todos os dias.

Ficar na cama até mais tarde no fim de semana para recuperar o sono perdido não traz benefícios extras, sugere estudo publicado na revista ‘Current Biology’.

Os pesquisadores realizaram o estudo com 36 participantes, com idades entre 18 e 39 anos, que por duas semanas foram mantidos em um laboratório onde tiveram a ingestão de alimentos, a exposição à luz e o sono monitorados.

A ideia era analisar como a privação de sono e um repouso maior no fim de semana afetam a saúde e o metabolismo.

“No final, não vimos nenhum benefício em qualquer resultado metabólico nas pessoas que conseguiram dormir mais no fim de semana”, disse o autor principal do estudo e professor assistente de pesquisa de fisiologia integrativa da Universidade do Colorado, em Boulder, Chris Depner.

Estudo do sono
Para a realização do experimento, os participantes foram divididos em grupos, sendo um deles com o sono limitado a 5 horas por noite, durante nove dias, incluindo os fins de semana.

No segundo grupo – chamado de “grupo de recuperação de fim de semana” – foram autorizadas até cinco horas de sono durante cinco dias, seguidos de um fim de semana em que pudessem dormir o quanto quisessem antes de retornar a dois dias de sono restrito.

Segundo os pesquisadores, os dois grupos aumentaram o consumo de lanches à noite, ganharam peso e mostraram sinais de deterioração da saúde metabólica, em comparação com o início do estudo.

Riscos de dormir pouco

A pesquisa mostrou que dormir muito pouco pode aumentar o risco de uma série de problemas de saúde, incluindo obesidade e diabetes tipo 2, em parte impulsionada pela vontade de comer à noite e por diminuir a sensibilidade à insulina, ou a capacidade de o corpo de regular o açúcar no sangue.

Embora a amostra utilizada para chegar aos resultados pareça pequena, os especialistas disseram que o número de participantes é considerado grande para um estudo do tipo.

Os dois grupos com restrições ao sono ganharam pouco peso ao longo do estudo – foi pouco mais de 1kg – e se tornaram menos sensíveis à insulina.

Os pesquisadores também identificaram que no grupo em que era possível recuperar o sono perdido houve melhorias leves no final de semana, com lanches noturnos reduzidos, mas que esses benefícios desapareciam quando a semana de trabalho com sono restrito era retomada.

Em algumas medidas de saúde, o grupo de recuperação no final de semana teve resultados piores.

A sensibilidade à insulina diminuiu em até 13% no grupo com sono restrito, enquanto no grupo de recuperação no final de semana piorou entre 9% e 27%.

Um problema identificado foi que as pessoas que tiveram a oportunidade de recuperar o sono tiveram dificuldades para fazê-lo.

No final, o grupo de recuperação conseguiu apenas 66 minutos a mais de sono, em média, no final de semana.

Ideal é criar rotina
Especialistas não envolvidos na pesquisa disseram que embora os efeitos sobre a saúde mostrados no estudo sejam pequenos, seria possível que ao longo de meses e anos tal impacto pudesse aumentar.

Eles disseram que os resultados do estudo reforçaram recomendações existentes de que é importante dormir o suficiente durante a semana – para adultos, por exemplo, especialistas afirmam que isso seria entre 7 e 9 horas por dia – e, idealmente, manter um horário regular para deitar e levantar todos os dias.

Mas se você não consegue manter essa rotina, isso não significa que ficar mais tempo na cama quando for possível é necessariamente ruim.

O estudo focou em como a restrição do sono e um repouso maior no fim de semana afetam a saúde metabólica, em vez de, por exemplo, a saúde mental ou a capacidade cognitiva.

Malcolm von Schantz, professor de cronobiologia da Universidade de Surrey, acrescentou: “Ao mesmo tempo em que eu acho que devemos pedir a todos para tentarem ter horários regulares, eu não acho que devemos dizer às pessoas que não têm esse luxo que elas não devem dormir mais durante o fim de semana”.

Fonte: BBC

Fazendo amigos depois dos 50, 60, 70…

Para os cientistas, ampliar a interação social combate o sedentarismo e pode ajudar a viver mais

Na semana passada, pesquisadores da Universidade do Texas, em Austin, publicaram um estudo que mostra o efeito benéfico de um leque variado de interações sociais. Adultos que cultivavam relações não apenas com parentes e amigos próximos, mas também com simples conhecidos ou prestadores de serviços e tinham disposição até para lidar com estranhos, apresentavam níveis mais altos de atividade e um volume menor de sentimentos negativos. Karen Fingerman, diretora do Texas Aging & Longevity Center, lembrou que o sedentarismo aumenta com a idade e se torna um fator de risco: “os idosos que só convivem com familiares e amigos muito chegados tendem a ser mais sedentários. No entanto, para se relacionarem com pessoas que não conhecem tão bem, acabam tendo que sair de casa”. Foi o que a pesquisa provou, ao pedir que os participantes usassem sensores eletrônicos para monitorar sua atividade física.

Portanto, o próximo passo é se esforçar para ampliar o espectro das suas relações. O que parecia simples na época da escola, ou mesmo no ambiente de trabalho, passa a soar como uma façanha. Kate Leaver, autora de “The friendship cure” (em tradução livre, “A cura pela amizade”), lançado ano passado, afirma que diariamente perdemos oportunidades de estabelecer pontes com outros seres humanos. “Como podemos viver na era da conectividade e enfrentarmos uma epidemia de solidão? Amigos não são uma distração, são a solução”, ensina em seu livro.

As mulheres tendem a viver mais que os homens. Manter um círculo de amigas pode ser a rede de proteção afetiva para enfrentar momentos dolorosos, por isso vale a pena cultivar essa proximidade. O jornal britânico “The Guardian” listou formas de encontrar novos amigos, começando por aprender a identificar oportunidades de criar laços. Exemplos: em vez de um bom dia protocolar no elevador, convide o vizinho ou vizinha para um café ou chá; se conheceu alguém, adicione a pessoa em sua rede social e mantenha contato. Outra opção: seguir seus interesses e juntar-se a um grupo, clube ou classe que se dedique à mesma atividade: cantar, dançar, cozinhar. Se quiser ousar, comece algo totalmente diferente, pelo prazer de aprender, e certamente encontrará gente em situação idêntica. Mais uma sugestão: permita-se ser vulnerável e necessitar de ajuda; assim outras pessoas poderão se aproximar. Por último, mas não menos importante: use a tecnologia e os aplicativos, mas não se restrinja ao mundo virtual.

 

Fonte: Bem Estar

Os inimigos da felicidade e as lições de Epicuro

Se não sabemos quem somos, como é possível sabermos o que queremos?

A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade. E está na moda — há workshops, testes em revistas, ranking de países felizes… Ser feliz é um imperativo — quase uma obrigação. Afinal, uma pessoa infeliz não é bem-vinda; é vista como mal-resolvida e fracassada e, portanto, alguém a evitar.

Porém, o tema não é novo. Há 2500 anos os pré-socráticos já faziam tratados sobre como alcançar uma vida feliz. Apesar dos anos de busca — e todo o conhecimento acumulado — está longe de ser uma conquista. E é sem surpresa que numa época em que se prega a felicidade a qualquer custo, é também a época recordista em casos de depressão .O Brasil está em quinto lugar, atrás de países como os EUA (1º) e Portugal (2º).

O fato é que continuamos tão frágeis e insatisfeitos quanto os homens da Grécia Antiga, com o agravante de que ser feliz hoje é muito mais difícil do que na Atenas de Platão. Vamos aos entraves — e começamos pelos mais recentes.

Os cientistas sociais afirmam que desde o século XIX passamos a endeusar as relações amorosas e o trabalho. Iniciou-se um crença (que dura até hoje) de que é através deles que encontramos a felicidade, ideia que não tinha ocorrido a ninguém até aí.

Continuando as estatísticas, no mundo ocidental estima-se que apenas 20% das pessoas gostam do seu trabalho. Isto significa que 80% são indiferentes ou não gostam do que fazem. No caso do Brasil, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para uma insatisfação de 90%. Sobre os níveis de felicidade nas relações amorosas, o assunto é ainda mais complicado. E quando falamos da satisfação de ambos em simultâneo, não há estatística possível.

As razões desses números estão à vista: o trabalho é escasso, as carreiras são voláteis; e há o desemprego e a aposentadoria que destroem o status conquistado. E, estranhamente, esses mesmos atributos identificados na vida profissional, também podem ser verificados nas relações amorosas.

Torna-te quem tu és

Contudo, a insatisfação no trabalho e no amor não são os únicos entraves. Um outro inimigo da felicidade é a falta de sentido. E mais importante do que a vida ter sentido, é que esse sentido seja estabelecido por você mesmo. Entra em cena a grande contribuição de Nietzsche para o pensamento moderno: a denúncia de que o homem está sem rumo próprio; em movimento, mas percorrendo um caminho que não é o seu.

Quando seguimos uma rota que não é a nossa, a trajetória é sem alegria e, quando chegamos ao destino, encontramos o vazio. E porquê não estamos no nosso próprio caminho? Porque hoje não é fácil encontrá-lo. A modernidade está saturada com o excesso de destinos, confusa pela falta de nitidez, embotada pela artificialidade das redes sociais e pela imensidão de solicitações que arrastam o homem para longe de si mesmo. Se não sabemos quem somos, como é possível sabermos o que queremos?

Outro obstáculo, talvez o maior, seja a inveja. Não se trata da inveja do outro — como tanto gostamos de acreditar — mas a nossa. O filósofo Alain de Botton ensina a fugir da inveja a todo custo e recomenda (com humor) que você nunca vá a um jantar de ex-alunos. É uma armadilha. Não existe nada mais fatal para a nossa autoestima e para acordar dentro de nós os piores sentimentos, aqueles que anulam a nossa lucidez.

Mas, por que especificamente ex-colegas? Você tem inveja da rainha da Inglaterra? Não. Como não ter inveja de uma das pessoas mais ricas do mundo? A monarca possui um caixa eletrônico só para ela, não pode ser acusada em tribunal (goza do estatuto de “incapaz de fazer mal”) e toma uma taça de champagne todos os dias… Nós não a invejamos porque não nos identificamos com ela. Só invejamos as pessoas que julgamos iguais a nós. E quanto mais acharmos parecidas conosco, mais vamos compararmos, mais vamos imaginar que o seu emprego, seu casamento, seus filhos são melhores do que os nossos.

O drama é que os ex-colegas não são as únicas fontes de cobiça. A globalização e suas portas e janelas escancaradas, o Facebook e o Instagram mostram-nos todos os dias outros para nos compararmos — e invejarmos.

A vida não é justa

Outro empecilho para a vida feliz é a crença de que vivemos numa sociedade em que o mérito será sempre recompensado. A meritocracia parece uma crença inofensiva, porém, o grande problema é o seu reverso. Se uma pessoa tem sucesso e está convencida de que tem porque merece; aquele que não é bem-sucedido (a maioria) é acusado e acusa-se a si mesmo de não ser merecedor.

Nessa lógica terrível, o que não queremos admitir — mas deveríamos — é que a vida não é justa. E já que entramos no terreno das crenças infundadas… a felicidade absoluta não é uma possibilidade. Essa crença que vendemos a nós mesmos (ou compramos de outros) é uma ilusão. E muito pior do que pregar o impossível, é pregar como possível, aquilo que não é.

Diante desse quadro, a filosofia oferece um vasto menu de alternativas. Um exemplo de um modelo para a felicidade possível pode estar nas lições de Epicuro. Suas ideias estão na categoria da filosofia prática e devido a sua eficácia, virou uma corrente filosófica, o epicurismo.

Ele ensina que você deve certificar-se de que persegue objetivos que são genuinamente seus e não ideias “adotadas” (dos pais ou da sociedade), para que depois de uma longa jornada, não constate que não era o que você queria. E quando descobrir que está num caminho que não é o seu; não permita que a inveja e a comparação com outro roubem a segurança e a energia para mudar de rumo e começar de novo.

Estime-se: reconheça (e aceite) suas limitações e invista nos seus pontos fortes. Você foi abandonado pelo cônjuge amado ou perdeu estatuto? Cerque-se de bons amigos, de pessoas que sabem quem você é e o apreciam independentemente do seu sucesso ou da sua riqueza. (E para adiantar o trabalho, livre-se o mais depressa possível das pessoas para quem o seu estatuto importa).

E, sobretudo, pense a sua vida sem as vertentes amor e trabalho (ou pelo menos que elas tenham um peso mínimo). Epicuro ensina a substituir a complexidade vazia do sucesso, do dinheiro, do poder, das curtidas no Facebook — inibidores da vida autêntica — pela literatura, pela arte, pela filosofia, pelos amigos, pela natureza…

Seja um praticante diário dos prazeres simples e você experimentará genuínos e inesquecíveis momentos de felicidade.

Fonte: Vida Simples
Texto: Margot Cardoso

5 verdades que a pessoa emocionalmente madura deve aceitar

A pessoa emocionalmente madura aprende com suas dificuldades. O conceito de maturidade emocional foi um dos pilares das teorias de Albert Ellis, pai da terapia cognitivo-comportamental.

A pessoa emocionalmente madura sabe que a vida não é fácil ou justa. Por isso, não responsabiliza ninguém pela sua felicidade ou sofrimento, nem coloca a chave do seu bem-estar no bolso de outras pessoas. Ela se limita a assumir a responsabilidade por suas decisões, é arquiteta de cada um dos seus passos e escolhas, bem como de suas possíveis consequências.

O conceito de maturidade emocional foi um dos pilares das teorias de Albert Ellis. Assim, para aqueles que não conhecem o pai da terapia cognitivo-comportamental, cabe destacar que foi uma das figuras mais notáveis dentro da psicologia. Seu entusiasmo pela vida e por seu trabalho é difícil de igualar.

Escreveu mais de 80 livros, 1800 artigos, formou mais de 200 terapeutas e criou um instituto que leva seu nome, onde ensina as pessoas a identificar, questionar e substituir suas crenças negativas ou limitantes por outras mais saudáveis. Aquelas que promovem o bem-estar e o crescimento emocional para que a pessoa possa conquistar seus próprios objetivos.

Assim, em todos os seus trabalhos emerge sempre a necessidade de transmitir ferramentas básicas com as quais facilitar o nosso crescimento e maturidade como seres humanos. Essas chaves ou princípios que expomos a seguir contêm a essência desse conhecimento que Albert Ellis nos deu através do que ele considerava seu verdadeiro propósito: tornar o sofrimentomais manejável.

A pessoa emocionalmente madura entende que o mundo não é como deseja

Muitos de nós gostariam de poder editar o passado. Ser como o escritor que termina um capítulo e decide apagar certos parágrafos para que a história faça mais sentido.

No entanto, quer acreditemos ou não, às vezes a vida não tem sentido. Há coisas que acontecem sem qualquer explicação; são eventos, fatos e circunstâncias que somos obrigados a aceitar para continuar avançando.

Da mesma forma, a pessoa emocionalmente madura aprendeu que não pode mudar as pessoas. Não pode esperar que os outros ajam ou digam o que se espera. Tudo isso é, sem dúvida, mais uma fonte de sofrimento inútil.

Sabe que para ser feliz, deve ser responsável por si mesma

Bertrand Malle, psicólogo cognitivo da Universidade de Brown, realizou um estudo em 2004 para analisar a relação entre a felicidade e a forma como a nossa mente entende o conceito de responsabilidade pessoal.

Assim, um fato que permanece em evidência é que o ato de assumir que a responsabilidade pelo que nos acontece está nas mãos dos outros gera um claro desconforto. É como viver no território de avestruzes, é esconder a cabeça enquanto culpamos o mundo por nossos fracassos e desânimos.

Fica claro, no entanto, que não temos controle sobre todos os aspectos da nossa realidade. No entanto, temos a oportunidade de escolher como agir diante da realidade que temos que viver. É aí que reside a chave; este é, sem dúvida, o plano de rota que a pessoa emocionalmente madura tem em mente todos os dias.

Descobriu que tem permissão para mudar quando quiser

A pessoa emocionalmente madura se permite mudar. Porque mudar é crescer e é ajustar o curso com maior precisão depois de ter adquirido novos aprendizados.

Dar um passo adiante no nosso crescimento muitas vezes significa deixar as coisas e as pessoas para trás para reduzir as cargas que nos limitam, corroem valores pessoais e o bem-estar. Algo assim implica reunir coragem para entender que o nosso potencial está em assumir mudanças periodicamente.

Deve carregar uma bússola emocional no seu bolso

Em cada viagem ao longo de nossos caminhos vitais, precisamos de uma bússola emocional. Uma que sempre nos oriente para o norte, onde os medos não pesam demais, onde não há angústias e onde a ansiedade não diminui nossos passos.

A pessoa emocionalmente madura aprendeu a lidar com os estados que lhe trouxeram consequências indesejáveis, a partir dos quais, de algum modo, obteve conhecimento. Porque toda bússola deve estar bem calibrada, e isso é aprendido através da experiência, estando mais atentos aos estados internos, aos pensamentos irracionais, às emoções que tiram o pior de nós mesmos.

Não é preciso estar apaixonado para ser feliz

A pessoa emocionalmente madura não busca o amor obsessivamente. Não o evita, não foge dele, mas tampouco o necessita. Porque se há algo que entende é que em questões afetivas o que vale a pena, o que conta, é poder continuar crescendo. Continuar aprendendo junto com alguém que enriquece a jornada da vida, uma pessoa que não veta valores emocionais, mas que os impulsiona e os expande.

Assim, no coração de alguém emocionalmente maduro só cabem os amores que sabe equilibrar, os sonhos e projetos onde todos podem seguir seus objetivos, mas tendo um espaço em comum. Se isso não acontecer, a solidão sempre será preferível, porque nesse território podem habitar o bem-estar e a satisfação pessoal.

Para concluir, um aspecto deve ser observado. Ninguém chega neste mundo sendo uma pessoa emocionalmente madura; este assunto é aprendido ao longo do tempo, e dia após dia novas e melhores habilidades são adquiridas para incluir em nossa bagagem existencial. Portanto, sejamos receptivos a esse tipo de aprendizado.

Fonte: Mente Maravilhosa

O que aprendi com a síndrome do pânico

Ressignificar o tempo, as experiências e as memórias faz parte do processo.

Eram 4 horas da manhã quando liguei para minha mãe. Eu havia acordado me sentindo sufocada, agoniada – numa crise da qual não me esqueço. Mil pensamentos passando pela cabeça e a urgência em sair de casa em busca de um lugar seguro. Ela recebeu minha ligação assustada, e pensou que eu estava tendo um ataque cardíaco. Mas eu sabia que aquele era o auge da minha crise de ansiedade, o episódio inicial de uma fase aguda de síndrome do pânico que duraria dois meses e da qual hoje, após um processo de autoconhecimento, já me sinto melhor.

Na noite daquela terça-feira, eu havia recebido uma mensagem pelo celular com uma notícia que me deixou muito mal: um colega havia tirado a própria vida. Ele tinha depressão, e fiquei me perguntando o que se passava na cabeça dele. Eu já estava lidando, havia alguns anos, com momentos de profundo estresse na empresa, e constantemente enfrentando episódios de ansiedade. Me sentia angustiada e com uma sensação ruim…Mas sempre fui vista como uma pessoa equilibrada e organizada. E, naquela crise, experimentei uma sensação diferente do que era ser eu. Perdi o controle de mim mesma. Tive taquicardia, sensação de asfixia, e a mente martelava ideias bagunçadas, desconexas. Me assustei, eu não era assim.

Minha mãe estava na casa da minha irmã, que havia tido bebê recentemente. E foi para lá que segui, no meio da madrugada. Peguei o carro e fui para aquele que seria o único refúgio seguro no qual eu poderia estar. O quarto da minha pequena sobrinha se tornou meu abrigo por um mês, no auge da crise de pânico. Com apenas 8 meses, ela já dormia segura no seu bercinho. E eu, aos 38, voltava a ser criança, e só conseguia pegar no sono segurando a mão da minha mãe. Quando a bebê acordava no meio da noite para mamar, eu já estava desperta. É que as crises não me permitiam uma noite inteira de sono, e a cada duas horas abria os olhos, muitas vezes com os mesmos sintomas que pareciam não querer me deixar tão cedo.

No quadro de síndrome do pânico, os pensamentos ficam emaranhados; os sentimentos, embaçados. Enquanto a agonia só cresce dentro de você. Essa morada provisória traz muitos desconfortos. É como se um inquilino passasse a habitar sua própria casa sem o seu consentimento. Você fica sem saber como agir, pois qualquer reação é desconhecida e imprevisível. Naquele período, tudo me fazia lembrar do meu colega e daquele episódio que eu lutava dia e noite para esquecer. No meio dessa confusão, fui tomada pelo desespero. Pela minha cabeça passaram pensamentos tão absurdos que eu cheguei a temer a perda da lucidez. Rezava diariamente, para que Deus guiasse meus caminhos.

Uma viagem para dentro

Durante essa jornada, peregrinei dentro de mim mesma. Buscava a cura para a desordem e o barulho interno. É como se eu precisasse convencer minha mente de que aquele inferno passaria. Achei numa canção da banda Coldplay os versos para expressar um transtorno de pânico. “Ninguém disse que era fácil. Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim. Oh, me leve de volta ao começo”, diz a letra de The Scientist. Esse começo é o ponto de chegada de quem, assim como eu, já sofreu ou convive com a síndrome. Voltar ao zero e retomar a posse da própria vida. Ressignificar o tempo, as experiências e as memórias. Busquei tratamento logo. Eu queria me reconhecer novamente.

Nesse sentido, as sessões de hipnose me ajudaram mais do que eu poderia imaginar. O Dr. Diego Wildberger me fez voltar ao passado e remexer nas memórias mais profundas. Nelas, eu mergulhava em tudo o que me trazia desconforto. Em situações das quais eu nem lembrava mais, ou outras das quais jamais esqueci, como o falecimento do meu pai, há 14 anos. Ou mesmo os tempos de escola em que sofri bullying: eu não tinha noção das consequências daquele período. Era muito tímida e guardava tudo — como ainda fazia depois de adulta em diversos momentos da minha vida.

Diego também me ensinou a reprogramar a forma ansiosa como eu pensava as situações futuras e também a respirar de um jeito que me regulasse os hormônios de bem-estar, ajudando no controle das crises. O que acontece durante esses episódios é que o organismo ativa o sistema de luta-fuga, e reações são desencadeadas pela mente com reflexos no corpo. Surgem os sintomas físicos e, em algumas pessoas, até a paralisia. Aos poucos, as crises foram perdendo força após as técnicas de hipnose, os exercícios de relaxamento e as conversas francas sobre minhas memórias e medos.

Ao mesmo tempo eu também busquei acompanhamento psiquiátrico. O Dr. Lauro Tonhá me confirmou que a síndrome do pânico não surgia de repente. Em quadros de estresse ou depressão, episódios de pânico podem se manifestar como consequência de outras síndromes. Segundo ele, “o pânico é uma ansiedade maior, em que você chega a ter a sensação de desrealização, perda de controle total e morte iminente”. Além da medicação, também recebi uma prescrição fundamental para me ajudar: a prática de atividade física. E fiz um curso de meditação e também busquei apoio nas missas de libertação. Nelas, eu escrevia em uma folha tudo o que queria que fosse embora. Pode parecer pequeno, mas colocar isso no papel era um jeito de tirar um pouco de mim.

Um novo começo

Após um mês, consegui voltar ao meu apartamento. Era um lugar que eu adorava, mas que cogitei vender porque não me sentia segura só. Minha mãe então ficou comigo por dois meses e aos poucos as coisas foram melhorando. Achei que a doença tomaria conta de mim e que poderia durar uma infinidade de tempo. Sem um senso de razão ativado, tudo era incerto. Ainda bem que não foi assim pra sempre. Com alguns meses de tratamento, já me sentia melhor. Mas vez ou outra surgiam situações que funcionavam como um gatilho para me colocar no meio de uma crise. Com doses de remédio, atividade física, hipnoterapia e meditação, aprendi a controlar minhas reações em situações difíceis.

Também tomei uma decisão que transformou minha rotina. Propus uma redução na minha jornada de trabalho, mesmo significando ganhar menos. Em vez de oito horas, hoje trabalho seis. Percebi que nem sempre as situações externas vão mudar, nem há como acabar com momentos estressantes. Mas podemos agir de forma diferente diante delas. Deixei de engolir tudo e passei a expor o que sinto. Tudo mudou.

Percebi que existe muito preconceito em torno das doenças psicológicas. Quando alguém próximo tem, não damos atenção, porque não é algo tão perceptível como uma doença física. Afinal, enquanto a pessoa com depressão ou ansiedade ainda é capaz de seguir sua rotina, ninguém desconfia do que ela passa — ou tudo não parece mais do que frescura. Já quem enfrenta isso se vê perdendo a própria personalidade, com medo dos rótulos que levam ao silêncio e à vergonha.

Por isso acho que precisamos falar mais sobre o assunto. A síndrome do pânico foi o pior momento da minha vida, mais até que a morte do meu pai, que eu amava tanto, que era meu herói. Mas ela também foi um divisor de águas, que me colocou dentro de mim, das minhas emoções, e me fez rever o que não me fazia bem e não carregar mais nada que não é meu, não receber lixo de ninguém. Até meus relacionamentos melhoraram. Hoje comemoro cada momento como se fosse único. Viver de forma plena, verdadeira e sincera é o que mais importa.

Fonte: Vida Simples
Texto: Laila Azevedo