O evento foi promovido pelo CRP e recebeu a Dra. Karina Okajima
Foto: Adriana Lemos
A psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, doutora no tema suicídio e luto, foi a palestrante magna do seminário sobre o assunto promovido pelo CRP 21, em Teresina, no último final de semana. A discussão vem sendo promovida com o objetivo de lançar luz sobre a temática para a prevenção e posvenção a questão, que já se tornou um problema de saúde pública.
Teresina detém índices incômodos de suicídio, ocupando a quinta posição no ranking nacional e a terceira posição no Nordeste em número de mortes por autoeliminação. Dados levados ao seminário pelo palestrante da mesa redonda sobre “Suicídio e Saúde Mental” e psiquiatra Assis Santos Rocha, pontuam que no ano de 2000 ocorreram em termos mundiais 16 mortes por 100 mil pessoas, com variação de sexo, idade e país.
Os dados são da OMS (Organização Mundial de Saúde) e apontam também que o suicídio foi a 4ª causa de morte e a 6ª de incapacitação para o trabalho, entre 15 e 44 anos e que para cada suicídio cinco ou seis pessoas próximas são impactadas na sua vida emocional, social e econômica.
O levantamento feito pelo médico mostrou que de 1980 a 2000 foram registrados (presumisse que há subnotificação) 422 óbitos por suicídio em Teresina, com uma taxa de 3,4 suicídios por 100 mil habitantes. “Em termo mundial é uma taxa considerada baixa, pois se considera alto um índice acima de 15 por 100 mil habitantes, mas ainda assim é preocupante o crescimento dessas mortes em nossa cidade. É uma questão de saúde pública”, frisou.
Ele acrescentou que a pessoa que tira sua vida o faz para matar algo ruim que está dentro dela. Nessa perspectiva a pessoa não quer morrer, mas acabar com uma dor que parece intransponível.
Dados mais recentes sobre o mapa da violência e ordenamento das capitais por taxa de suicídio na população total e na população jovem colocam Teresina na 1ª (9,6 mortes por 100 mil habitantes) e 2ª posição (14,4 mortes por 100 mil habitantes), respectivamente. Os dados cobrem os anos de 1998 a 2008. As capitais que se revezam com Teresina nesses dados são Porto Alegre (população total, 2º lugar) e Bom Vista (população jovem, 1º lugar).
Outro palestrante dessa mesa redonda, o professor e psicólogo social Emanoel Lima, pontuou que é preciso se aproximar desse objeto de estudo para entender quais as motivações do alto índice de suicídios em Teresina entre jovens. Ele acrescentou que a saúde coletiva é um campo que concentra uma complexidade do saber.
Segundo o psicólogo, o suicídio é também um problema complexo e requer um olhar e cuidado múltiplos. Na sua percepção o alto índice de morte por essa causa na capital piauiense pode estar ligado, dentre outras motivos, à pressão da cultura tradicional peculiar ao estado. “Nossas crianças e jovens são muito pressionados em termos de estudos e desempenho, por exemplo. Há também uma prescrição de identidades e um incentivo ao consumismo”, supõe.
Em termos do luto dos sobreviventes ao suicídio a Dra. Karina Okajima destacou algo de grande importância, o fato de que é preciso viver o luto. “Muito mais importante que o tempo, que não cura nada, é dar sentido às vivências. Pergunte ao seu paciente o que foi (seu) com a pessoa que morreu e o que ela deixou. Amor é isso”.
Já acerca da morte e do luto, a psicóloga e antropóloga Patrícia Moreira, falou que àquela é vista como tabu neste século. “As pessoas não falam na morte, pois elas pensam que falando sobre o tema vão se contaminar”, diz Patrícia.
Em suma, a questão é complexa e ainda um desafio para as diversas áreas impactadas pelo suicídio, incluindo a psicologia. O tema precisa e deve ser discutido, inclusive pela imprensa, mas de modo profissional e ético (existe um manual da OMS de como a imprensa pode se comportar sobre o assunto e está disponível na Internet). Quanto mais se falar, mais pessoas poderão expor seus medos, angústias e dúvidas e ao contrário de cometer o ato podem ser demovidas da ideia. Falando sobre o assunto às pessoas podem também ter acesso a informações e serviços nos quais podem receber ajuda, como a de serem ouvidas. Entre estes serviços está o CVV (Centro de Valorização da Vida), que em Teresina atende pelo telefone 3222.0000.
Por Adriana Lemos – Jornalista e psicóloga
*Da equipe Cuidarte