A morte e a vida que levamos

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Ainda que a morte seja a única certeza da vida, nossa sociedade é carregada de tabus no que se refere à mesma: “Melhor não falar porque atrai”, “Vamos mudar de assunto?”, “É melhor a gente não conversar sobre isso perto das crianças”, etc.

Falar sobre a morte não irá atraí-la e deixar de falar não nos livrará dela. Nada impedirá que ela se aproxime de cada um de nós, seja direta ou indiretamente. Todos os dias vemos nos noticiários de TV, nas redes sociais e em outros meios de comunicação a morte sendo retratada e repassada sem nenhum cuidado e, muitas vezes, devido à essa banalização, ela simplesmente passa sem que nos aproximemos dela.

Ao nos afastarmos da morte, ignorando-a, passamos a viver à mercê dos acontecimentos e sem desfrutar da vida da melhor forma que poderíamos. Poderíamos: conjugado no futuro do pretérito para ilustrar que podemos estar perdendo tempo. E tempo é vida!

É sobre esse tempo que pode estar sendo desperdiçado que eu gostaria de lhes falar.

Ana Claudia Quintana Arantes em seu livro A morte é um dia que vale a pena viver traz reflexões importantes sobre o processo de viver e morrer. Numa destas, ela diz: “O problema é que caminhamos ao lado de pessoas que pensam que são eternas. Por causa dessa ilusão, vivem suas vidas de modo irresponsável, sem compromisso com o bom, o belo e o verdadeiro, distanciadas da própria essência. (…) Pensam que, se não olharem para o lixo de relação afetiva, o lixo de trabalho, o lixo de vida que preservam a qualquer preço, será como se o lixo não existisse. Mas o lixo se faz presente. Cheira mal, traz desconforto, traz doenças”.

Diante disso lhes pergunto: quantas horas do nosso dia temos tirado para fazer algo que nos dá prazer e nos aproxima de nós mesmos? Sem preocupação excessiva com compromissos financeiros, temporais, laborais ou o que seja? Não estou dizendo que nos afastar das nossas responsabilidades nos dará mais tempo de vida ou mais prazer à vida. Mas onde está a importância que temos dado à qualidade da vida que levamos?

Vou melhorar a pergunta: quantos minutos do nosso dia temos tirado para fazer algo que nos dá prazer e nos aproxima de nós mesmos? Pode ser fazer aquela leitura que você vem adiando, visitar a vizinha que você quase não vê mais, tomar um café com as amigas, caminhar com seu cachorro ou sozinha, por que não?

Então, perceberam que o prazer pode estar nos pequenos movimentos que fazemos em nosso dia-a-dia? São ajustes necessários para que a gente saia do automatismo e respire um pouco, olhe um pouco mais para dentro. Frente a isso vocês devem estar se perguntando: por que começar falando sobre morte?

A resposta é simples: falar de morte é falar de vida, já que a mesma existe não apenas para nos fazer finitos, mas para completar nossa existência e dar sentido a ela. Dependendo, é claro, de como cada um tem preferido ver e viver. Lembrando que viver não é sinônimo de estar vivo, simplesmente. Viver vai muito além de estar acordado.

Falar sobre a morte é a tentativa de demonstrar-lhes que a mesma pode estar sempre iminente, mas temos uma vida para fazer acontecer todos os dias da melhor forma que pudermos, sem perda de tempo!

Por Samantha Carvalho – psicóloga