O objetivo da terapia de grupo, principalmente nos casos de dependência, é proporcionar um entendimento mais amplo do self e do efeito que um indivíduo tem sobre as outras pessoas do grupo, avaliando o efeito dos outros sobre o indivíduo. Os dependentes aprendem sobre si mesmos a partir do coordenador do grupo e dos outros membros. Eles podem descobrir como seu comportamento e atitudes são frequentemente autoderrotistas e destrutivos, fazendo com que sejam erroneamente compreendidos pelas outras pessoas e fazendo com que os outros os compreendam erroneamente. Um grupo coeso, acolhedor, onde os pacientes são recebidos por coordenadores abertos para a especificidade de suas vivências, pode ser um profundo encorajamento, ajudando-os a formular discursos e demandas que favoreçam a construção ou reconstrução de um recorte específico, dentro de um tema complexo, que se inicia quando o indivíduo se coloca em relação ao outro e não mais em relação ao objeto de dependência. O grupo pode ser um articulador de encontros; é primordial que se criem espaços grupais terapêuticos, onde haja facilitação para construção de uma demanda que sustente o caos onde o dependente normalmente está inserido.
A terapia de grupo promove o desenvolvimento dos relacionamentos interpessoais e do apoio mútuo entre os dependentes; isto é, pode ser especialmente útil na medida em que muitos deles decidem cortar o contato com seus antigos companheiros de adicção. Os fenômenos de transferência são mais fáceis de manejar dentro de um grupo do que muitas vezes em terapias individuais. No grupo, a dependência do terapeuta é menos pronunciada do que num setting individual e tende a diluir entre os outros membros. O grupo permite aos dependentes examinarem seus relacionamentos interpessoais e suas habilidades sociais. Uma vez que a negação é um mecanismo de defesa frequentemente utilizado pelos dependentes (Amodeo, 1990), a confrontação dessa negação pode ser mais efetiva em um ambiente onde não exista apenas o terapeuta para intervir, mas também uma interação grupal.
Alguns fatores foram desenvolvidos por Yalon (1975) e modificados subsequentemente por Block e colaboradores (1979) e Block e Crouch (1985), para a estruturação de um trabalho útil em grupos: aceitação (o paciente se sente aceito pelo grupo, uma parte integral da coesão); altruísmo (capacidade de ajudar outros membros do grupo); universalidade (sentir que estamos “todos no mesmo barco”); instalação da esperança (de um resultado bem-sucedido); aprendizagem por substituição (pela observação da interação entre os membros do grupo); orientação (informação ou conselhos recebidos dentro do grupo); autoentendimento; aprendizagem a partir de ações interpessoais (aquisição de comportamentos mais adaptativos dentro do grupo); autorevelação e catarse.
Há inúmeras denominações diferentes a uma mesma finalidade grupal. Assim, muitos autores costumam catalogar os grupos de acordo com a técnica empregada pelo condenador e com o tipo de vínculo que ele estabeleceu com os indivíduos integrantes. Exemplo disso é o conhecido critério de classificar os quatro tipos seguintes: pelo grupo (o qual, funciona gravitando em torno do líder, através do recurso da sugestão ou de uma identificação com ele, como nos grupos Pratt ou nos Alcoólicos Anônimos etc.); em grupo (as interpretações são dirigidas ao indivíduo. De certa forma, é um tratamento individual de cada membro na presença dos demais); do grupo (o enfoque interpretativo está sempre dirigido ao grupo com uma totalidade gestáltica); de grupo (a atividade interpretativa parte das individualidades para a generalidade e desta para os indivíduos).
Para os dependentes, a família é primordial e um fator crítico no tratamento. Sua abordagem é um procedimento fundamental nos programas terapêuticos. Sendo assim, as famílias de dependentes também se beneficiam dos atendimentos grupais. Laquer (1951) criou o “Grupo Multifamiliar”, adaptando as técnicas de terapia de grupo para dirigir à reestruturação dos padrões de relacionamento familiar. O Grupo Multifamiliar tem sido utilizado como coadjuvante no tratamento de vários problemas psiquiátricos e de comportamento, tem se evidenciado como um instrumento terapêutico com resultados positivos, especialmente quando integrado a um programa mais abrangente (Stanton; Toddy, 1985).
Adaptado do texto “Terapias de Grupo”
*Thais P. Gracie Maluf é psicóloga e psicoterapeuta familiar e casal, com mestrado em Ciências da Saúde e especialização em Terapia Familiar pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Atuou como coordenadora do setor de atendimento às famílias de dependentes no Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, Proad (Unifesp). Preceptora e supervisora do Programa de Residência Multi do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Coordenou e supervisionou o programa de estágio de psicólogos e professora dos cursos de especialização e capacitação do Proad. Experiência na área das dependências químicas e de comportamentos, com enfoque no tratamento psicoterápico individual e grupal.
Fonte: psiquecienciaevida