Seu filho manda em você? Saiba o que é a `Síndrome do Imperador´

Para a especialista, o problema começa quando os pais têm medo de frustrar os filhos e querem, a qualquer custo, fazer com que as crianças sejam felizes a qualquer custo.

Os pais dão tudo para ele, de festa ostentação em buffet infantil a brinquedos de última geração, mas ainda assim a criança está insatisfeita. Para ela, limites e regras não existem. Para os pais, o que fica é o sentimento de frustração de nunca conseguir agradar o filho. Apesar de parecer apenas um exemplo do que chamaríamos de “mimado”, o caso pode ser mais sério, definido como “Síndrome do Imperador”. Apesar de não ser reconhecido pelo DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), o problema atinge muitas famílias brasileiras e, de acordo com especialistas, exige tratamento psicológico, tanto dos pais quanto das crianças.

O que define um pequeno tirano em casa é simples. “Basta você comparar com um bebê, que realmente demanda atenção. Mas não é normal quando a criança cresce e precisa de um superinvestimento dos pais, que, geralmente por serem frustrados com a própria infância, criam uma criança sem bordas, sem limites, sem noção da realidade”, explica a psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner.

Para a especialista, o problema começa quando os pais têm medo de frustrar os filhos e querem, a qualquer custo, fazer com que as crianças sejam felizes a qualquer custo.

Nossos avós não tinham o menor problema em frustrar os filhos, mas agora, com uma sociedade imediatista, que precisa ter tudo e que vê uma felicidade deturpada nas redes sociais, os adultos não conseguem dizer não às crianças, como se isso fosse garantir a felicidade do filho.

Gabriela Malzyner

Por que isso é um problema?
A questão é que uma criança que não tem capacidade de lidar com a frustração é infeliz o tempo todo. “Uma pessoa que não é treinada a esperar, a criar, a ter compaixão e ser flexível, sofre toda hora”, diz Leo Fraiman, psicoterapeuta, escritor e palestrante.

Além disso, quando essa criança ou adolescente encontra uma dificuldade, como uma amizade desfeita, um vestibular ou não ser escolhida para o time da escola, ela desiste. “E também, por isso, tarefas escolares costumam ficar por último, porque aí tudo que dá trabalho não é interessante. A pessoa que é viciada em prazeres acaba tendo uma vida que, para ela, fica sem graça. E, assim, ela acaba desgraçando aqueles que estão à sua volta.”

O sofrimento dos pais também não é pequeno. Irritabilidade, confronto entre os cônjuges, culpa, constrangimento, estresse e ansiedade são apenas alguns dos problemas causados pela síndrome. De acordo com os especialistas, tanto os pais quanto as crianças devem procurar ajuda de terapeutas, mas os adultos precisam entender por que é tão difícil lidar com angústias e frustrações.

Normalmente, os pais destas crianças são pessoas que sofreram com pais muito autoritários, grosseiros, agressivos e que tentam compensar essa falta de afeto, essa carência deles na superproteção dos filhos.

Leo Fraiman

À medida que os pais escondem a própria angústia, eles fazem com que os filhos também não saibam como lidar com esse sentimento. E frente ao sofrimento das crianças, os adultos não sabem o que fazer. “É um ciclo de sofrimento”, diz Malzyner.

Pais e filhos precisam de ajuda
Por ser um problema causado pelos pais, eles também devem procurar ajuda profissional. Segundo os especialistas, é possível reverter o quadro, mas leva tempo. “Se uma criança durante dez anos cresceu com a ideia de que ela é uma imperatriz e dona do mundo, vai levar de um a dois anos o tratamento dela e dos pais”, conta Fraiman.

Para a criança, é indicada a terapia cognitiva comportamental, que ajuda a mudar crenças, valores, posturas de mundo e consegue auxiliá-la a encontrar um novo estilo de vida. Com os pais, são sessões de orientação familiar, empoderando-os para que eles se tornem capazes de serem os adultos da casa, os que têm a palavra final nas questões essenciais que dizem respeito à educação, saúde e respeito.

O ideal é que os pais parem de acreditar nessa história de dar felicidade ao colocar o filho em uma bolha. “Todos nós somos frustrados, é inevitável”, diz Malzyner. “Todos somos castrados, temos limitações e sempre desejamos mais do que somos capazes de realizar, mas isso faz parte da vida e é necessário para termos compaixão e respeito pelo outro. A criança vai ganhando noção disso à medida que o tempo passa.”

Como saber se meu filho tem essa síndrome?
Se com alguma frequência a criança apresentar esses sinais, é bom procurar ajuda.

– Irritabilidade;
– Mostra-se ingrata;
– Come só o que quer, na hora que quer e do jeito que quer;
– Não tenta objetivos frequentes na vida acadêmica;
– Reclama dos outros;
– Não entende os motivos do incômodo alheio;
– Não tem empatia, solidariedade, compaixão com os demais;
– Não aceita os ‘nãos’;
– Está constantemente ansiosa pelo novo e pelo ‘quero mais’.

Fonte: UOL